João Pessoa, 08 de outubro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Nasci e me criei no bairro de Tambiá, quando ainda circulava o bonde, na rua Odon Bezerra, antiga avenida sete de setembro. A rua era tranquila , com pouco movimento de veículos, os índices de violência eram desprezíveis, o que me propiciava muita liberdade. Ía diariamente a pé ao Colégio Pio XII, sozinho, apesar da tenra idade, a pouco mais de dois quarteirões de distância – era CDF de carteirinha – , e brincava na vizinhança, praticando atividades sadias: jogo de bola de gude, corrida de patinete, voleibol, peladas, cultivava uma modesta horta no quintal, e até “ celebrava missa”, certamente por influência da rígida formação religiosa em casa e no colégio. Até recordo que minha genitora chegou a consultar Monsenhor Sílvio, se não seria pecado brincar de “ celebrar missa”, inclusive usando “ pitombas” como hóstia.
Aos domingos, assistia às matinais do Cine Rex; posteriormente, já no ginásio, frequentava o Cine Plaza e Municipal. Recordo-me que, na sessão de reinauguração do Plaza, usei terno e gravata. As paqueras e os namoricos, mais platônicos do que físicos, começaram mais tarde; nem de longe se pareciam com o inimaginável “ficar” de hoje. Alguns adolescentes, quase imberbes, chegavam a “fugir”, precipitando o casamento. Veraneava na praia de Cabo Branco, curtindo as férias, oportunidade em que convivia com outros amigos e primos, dando vazão à nossa energia, mantendo Intensa atividade física, através da prática de esportes aquáticos, banhos de mar, frescobol, e iniciei na prática do jogo de xadrez. Depois vieram os assustados, os jantares dançantes do Cabo Branco, as noitadas nas boates Elite, Caravela e Casablanca.
Jamais poderia antever a possibilidade dos recursos atuais de multimídia, da internet, da globalização, das redes sociais – certamente com extraordinários benefícios – que fascinam os jovens de hoje e as criancinhas, que , por vezes, lamentavelmente, ficam horas a fio atrelados às telas, com prejuízo das atividades e brincadeiras sadias próprias da idade. É bem verdade que as crianças atualmente são mais precoces, certamente pela superestimulação através dos meios de comunicação; por outro lado, é preocupante a programação veiculada, muitas vezes com conteúdo impróprio e em horário inadequado , atentando contra os princípios éticos e morais da sociedade e incitando à violência.
É evidente que o notável progresso em todos os níveis trouxe grandes benefícios à população. A redução dos índices de pobreza, de miséria – embora ainda elevados -, e de desnutrição infantil, a melhoria da qualidade, da expectativa de vida e da mortalidade infantil, os ganhos sociais, o acesso a certas facilidades da vida moderna, mesmo para parcelas menos favorecidas da população, são notórios. Em contraposição cresceram a violência, o abuso sexual, os acidentes, o suicídio, o narcotráfico e a dependência química, etc., além do recrudescimento de velhas doenças e o inesperado surgimento dessa pandemia que tanto nos atormenta.
Na criança se deposita a esperança de dias melhores para a nação; a ela cumpre-nos dedicar especial carinho, amor e atenção, na condição de pais, avós, e, em particular, pediatras. É nosso dever e do poder público garantir seus direitos inalienáveis: proteção, educação e saúde. Comemoremos, pois, efusivamente, o dia que lhe é dedicado, na expectativa dum futuro cada vez mais alvissareiro!
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