João Pessoa, 24 de outubro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

A boate Passargada (quinta parte)

Comentários: 0
publicado em 24/10/2020 ás 08h44

Havia na Passargada um escritório escondido, com um vidro enorme na parede, desses vidros espelhados só pelo lado de fora. Ficava acima da boate e de lá, vendo sem ser visto, daria para controlar todo o movimento. Pelo menos essa era a intenção original. Com o tempo o espaço foi usado para muitas outras finalidades. Uma vez serviu para o encontro de um amigo e uma amiga que naquela oportunidade ainda estavam casados com outras pessoas. Num movimento super ensaiado, com as benesses de dois garçons, cada um levantou-se da mesa que ocupava, explicando ao respectivo cônjuge que iria ao banheiro. Encontraram-se na cozinha, subiram juntos para meu escritório onde eu já os esperava com uma “viuve clicquot” (foto) gelando num balde de prata. Deixei-os em paz e depois de uns quinze minutos estavam de volta às suas mesas com o futuro selado. Morro sob tortura porém jamais direi seus nomes.

Daquele escritório acompanhamos muita coisa. Dois conhecidos conquistadores levaram para a super festa do natal 8 (isso mesmo, OITO) belas garotas. Ocuparam um espaço privilegiado de onde poderiam ser vistos por todos. Adoravam exibir-se. Só que naquela noite não deu para eles. Num curto espaço de tempo perderam todas, rigorosamente todas as garotas para outros frequentadores. Aquele episódio passou a ser conhecido como o “top de oito segundos” que a Globo usava antes de colocar seu jornal no ar. A cada top uma das beldades saia do camarote e caia nos braços de um dos “ursos” que frequentavam a Passargada. Em favor dos conquistadores devo dizer que nem chiaram. Saíram da boate e pouco depois voltaram com duas outras não tão beldades, porém com essas foram felizes até a madrugada. Naquela noite eu os convidei para o café da manhã na piscina de minha casa; prêmio pelo fair-play.

Muitas vezes fui feliz para sempre durante algumas horas naquele escritório. Daquele escritório vi muita coisa. Ali eu aprendi como verdadeiramente funciona a noite. Tem encanto e magia, mas tem um lado obscuro que pouquíssimas pessoas imaginariam. O ser humano se transforma quando bebe e nem sempre para melhor. Aprendi por exemplo que quando alguém está bêbado faz e diz o que pensou sóbrio. Mas há doçura e leveza na maioria das vezes.

Nos próximos capítulos outras pessoas dirão sobre a Passargada; gente que participou de sua breve e bela existência.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB