João Pessoa, 28 de outubro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O invisível é o que não se vê mas se sabe que existe. Certos trabalhos, por exemplo, têm uma face concreta que vemos e constatamos o seu resultado, como num procedimento de uma restauração dentária. Outros são realizados sem que se tenha o resultado palpável e de imediato; lidam com emoções e sentimentos, dos quais nem sempre se obtêm uma resposta visível. Como diz Dr. Martin Luther King Jr: “Nós que nos engajamos na ação direta não violenta não criamos tensão. Nós apenas trazemos à tona a tensão oculta que já estava lá”. Ele se referia ao sentimento invisível da injustiça. Outro exemplo, são os problemas sociais ofuscados pela distância, ideologia ou pela química, como os poluentes que não podem ser vistos, mesmo que nos causem mal.
Lembro uma mensagem que recebi em que uma criança espanhola falava: “Você acredita na existência de Deus? Não? Não acredita só porque você não o vê?” Aí imediatamente ela fazia outra pergunta: “Você vê o ar? Não? Acredita que ele existe? Por que é importante para você? E você acredita, porque se ele lhe faltar você morre sem respirar. Aí você não vê mas tem a certeza de sua existência”. Acreditar ou não no que nos falam é uma opção nossa. O sistema límbico é a parte do cérebro que processa sentimentos e emoções. Há aquele ditado: “Eu preciso ver para crer, porém há determinados sentimentos que não precisam ser vistos, bastam ser sentidos para nós incorporarmos como verdadeiros: afeto, amor, carinho, estima, amizade, envolvimento, tristeza, infelicidade, mágoa, desgosto, amargura, desprazer, dor, angustia, aflição etc. A estes todos somos sensíveis, mas nós não os vemos”.
Por que abordamos tudo isto? Porque nesse tempo de pandemia alguns sentimentos estão predominando em nossa alma. Existe uma sensação de ansiedade, de desespero, de pânico, uma vontade de buscar algo que está faltando mas não se sabe o que! Uma expectativa que parece estarmos diante de perigo iminente, sem razão para tal e sem nada pontual que explique esse estado de espírito. Fato que sucede em uns dias mais que em outros. Percebo que quando o foco sai do contexto ambiental e passa para outro que prenda a atenção e demonstre a capacidade de se agir sozinho, como sair de casa a algum lugar, ir às compras etc. esses sentimentos ficam completamente esquecidos. Na volta à rotina o encontro com a solidão retorna aquele transtorno emocional. Existe uma impaciência contínua que gera uma incerteza sem saber o que esperar? O que vai acontecer? Medo da ameaça da morte, principalmente quando escutamos notícias do falecimento de conhecidos. Aconteceu com ele poderá acontecer comigo? Isto é óbvio em todas as épocas da vida, todavia, agora tem um realce diferenciado, alimentado por setores da mídia, pela questão política, pela monotonia presente que gera a insegurança, provocando o nervosismo que acarreta a sensação de vulnerabilidade, incapacidade e instabilidade.
O isolamento a que fomos submetidos e o medo que domina é paralisante. Faz-nos interrogar nossa existência. Percebe-se um vazio existencial pelo menosprezo dado a vida e que nos leva a indagar a razão de viver? É como nada nos preenchesse, não explicasse a essência das coisas, dos fatos e da vida. Como define a psicóloga terapeuta transpessoal Wanessa Moreira (foto) (2018): “vazio existencial é um sentimento de incompletude”. Transparece que esse vazio existencial está assolando a humanidade, nesse momento. Não é à toa que os índices estatísticos de depressão e transtornos psicológicos emocionais estão predominando. Entendo que essas pessoas estão fugindo da solidão delas próprias. Como buscar a essência do nosso ser? Não tenho resposta de como superar aquele buraco no peito nessa situação. Alguns buscam no álcool, nas drogas, na comida etc. Nada as preenche, há algo que falta. O vazio de sua existência permanece. Só o tempo trará a resposta.
Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP)
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