João Pessoa, 29 de outubro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Conversando com o amigo Petrônio Souto, jornalista de escol, além de competente procurador, infelizmente aposentado precocemente por opção pessoal, memória viva de nossa história contemporânea, ele me sugeriu que recordasse nos meus textos, fatos de nossa época; certamente uma forma de fugir um pouco da temática que vinha abordando, centrada em assuntos médicos ou afins.
Lembrei-me então dos tempos de estudante no Pio XII, do Liceu Paraibano e do Colégio Universitário da Paraíba, onde cursei o primário, o ginásio e o científico. Do Liceu, da diretora enérgica Profa. Daura Rangel, destaco a agradável convivência com Ronaldo Mendonça, Francisco Olívio, Jair Cunha, César Lira, entre outros, e Martinho Moreira Franco que já se destacava pela sua afinidade com a escrita, merecendo, por isso, “ rasgados” elogios do renomado Professor de Português João Viana.
Os parcos recursos pedagógicos limitavam-se basicamente ao quadro negro; em compensação , contávamos com a retórica convincente e a competência de uma plêiade de docentes, muitos dos quais posteriormente migraram para a Universidade Federal da Paraíba. Destaque-se que o Liceu já dispunha de um laboratório bem montado, para as aulas práticas, onde inclusive se realizava taxidermia.
O acesso à informação era reduzido e nos debruçávamos nos livros, de olho no vestibular. Não frequentei cursinho pré-vestibular, pois o Colégio Universitário, instituição ligada à UFPB, proporcionava um ensino intensivo e de alto nível, contando com excelentes professores, o que propiciou a aprovação quase unânime dos alunos no temível exame de acesso ao curso superior. Convivi com diletos colegas, entre os quais, Éwerton Holanda, Alípio, Saulo, Gustavo, Rafael, José Hermanse, Carlos Bezerril, entre outros.
Nos momentos de descontração e lazer, era frequentador assíduo dos cinemas Rex, Plaza e Municipal. Recordo-me que na reinauguração do Plaza assisti ao filme “Quando Setembro Vier” (foto) estrelado por Gina Lollobrígida, Rock Hudson e Sandra Dee.
Nas tardes de domingo, o trottoir na Lagoa era programa obrigatório da moçada. Alguns desfilavam nos carros ( dos papais); recordo-me do saudoso amigo fraterno Rinaldo Siva pilotando um calhambeque Ford 29, conversível, pintado de amarelo, em alusão ao Rolls-Royce Amarelo do filme de mesmo nome, que teve como atores, Ingrid Bergman, Alain Délon e Shirley MacLaine.
Nos idos de 1970 , começaram a surgir as boates do Elite, Casa Blanca, Calamares, Marrakech, O Circo, Pasárgada, O Vagão, Papillon e o Maravalha, o clube dos solteiros, que tinha como madrinha a bela Simone Pinheiro. O Clube Cabo Branco e algumas associações também aderiram à moda. Fui frequentador assíduo dos jantares dançantes do clube do Miramar. O Clube Astréa, que disputava com o Cabo Branco a primazia das principais festas da cidade, inclusive os famosos bailes de carnaval, lamentavelmente começava a entrar em decadência. O CEU ( Clube do Estudante Universitário) promovia aos domingos animadas noitadas, sempre muito bem frequentadas.
A luz negra e as bandas faziam sucesso retumbante.Impossível esquecer as músicas que lideravam as paradas de sucesso e os grandes cantores e compositores da época: Luiz Gonzaga, Sivuca, Nelson Gonçalves, Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius de Morais, João Gilberto,Geraldo Vandré, Elis Regina, Milton Nascimento, Gal Costa, Ney Matogrosso, Maria Betânia, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Adoniran Barbosa, Herivelto Martins, Wilson Simonal, Jackson do Pandeiro, Pixinguinha, citando apenas alguns brasileiros. As grandes orquestras – Ray Conniff, Burt Bacharat, Orquestra Tabajara, etc., os conjuntos musicais e as bandas Beatles, Rolling Stones, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, The Platters, Quarteto em Cy, Demônios da Garoa ,levavam as plateias ao delírio. Por aqui brilhavam os conjuntos e bandas musicais de Ademir Sorrentino – que animava o jantar dançante dos sábados no Clube Cabo Branco -, Os Quatro Loucos, Os Diplomatas, Os Gentlemen , que agitavam as noitadas dos clubes e boates. Não só para o deleite, mas certamente a música constituiu à época importante veículo de manifestação de protesto, num período de controle rigoroso da liberdade de expressão e de forte repressão militar.
E, para encerrar, seria injusto omitir, até por fidelidade à história, a incursão pelos cabarés da Maciel Pinheiro e adjacências , refúgio costumeiro de muitos jovens ( e senhores) de boas famílias.
São algumas reminiscências da época. O “resto depois eu conto”, como diria o saudoso Heitor Falcão.
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