João Pessoa, 01 de novembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Estive numa bela e próspera cidade do interior da Paraíba. Fazia uns 20 anos que não a visitava. Ao adentrar a urbe centenária do brejo paraibano, patrimônio histórico cultural nacional, tive logo um impacto pela limpeza urbana e beleza de seus prédios e casarios bem cuidados, pintados, multicoloridos, que passa a impressão de aconchego, alegria e felicidade. Toda arborizada e florida nesta primavera. Há o incentivo público com o projeto “Uma Rosa na Janela”, para que os habitantes ornem a sacada de suas janelas e portas com plantas que florescem dando aquele charme que comunica uma magia que encanta a todos. É um município onde se respira cultura e história, fundado em 1846. Tem filhos ilustres nas artes e nas letras, como Pedro Américo escritor, pintor, poeta, político e professor, consagrado como um dos principais pintores do país, que tem busto em bronze, colocado na praça central da cidade; José Américo de Almeida, romancista, ensaísta, cronista, advogado, professor universitário, político, folclorista e sociólogo; foi o quinto ocupante da Cadeira 38 da ABL, sendo eleito como “Intelectual do Ano” em 1977, numa homenagem da União Brasileira de Escritores. Areia possui o maior número de museus com referência a outras cidades da Paraíba, com peças originais e valiosas dos famosos artistas. Existe uma preocupação em preservar os costumes e a cultura genuína local. Evidencia-se nos casarios, em seus móveis e nos hábitos adotados. Hospedamo-nos em um hotel que não deixa nada a desejar daqueles que tivemos oportunidade de conhecer no interior de países europeus e até os supera, pois o café da manhã é tão farto de frutas tropicais das mais doces e de um buffet com tantas variedades, que já parece um almoço antecipado.
Durante o dia nos oferece passeios para quem gosta de apreciar a natureza, com trilhas dentro das matas, do Pau Ferro, com um guia. Visita a engenhos, fazendas e lojas de artesanato que se convertem em ateliers que abrem suas portas para quem quer fazer compras e concede espaço ao visitante para aprender a fazê-lo. O turista pode se engajar e participar ativamente sentindo-se capacitado para elaborar uma peça, orientado pelo artesão ou artesã. Uma hora e meia de permanência pode ser o suficiente para tal aventura. Há diversas variedades: palha, madeira, roupas de tricô, fibra de bananeira, bordados, objetos em cerâmica feitos pela comunidade “loiceira” chamada Chã da pia, que faz panelas, utensílios domésticos e elaboram bonecas segundo o conhecimento popular. No atelier, as peças chegam sem pintura e na loja o turista dá seu toque a seu gosto. O trabalho com madeira retrata a paisagem urbanista, contando as tradições e a história da cidade numa réplica fiel, servindo de recordação para aqueles que a visitam.
Na zona rural, o município possui 20 engenhos que fabricam aguardente de cana de açúcar. Dentre eles destaca-se o Engenho Triunfo que é um dos mais promissores em termos de tecnologia e desenvolvimento local. Ao adentrarmos às suas instalações dá-nos a impressão de estarmos visitando uma venícula da região do nordeste da França, a Alsácia, na planície do Rio Reno, fazendo fronteira com a Alemanha e a Suíça, onde estivemos por várias vezes e se fabricam os melhores vinhos brancos franceses da uva Riesling. Triunfo, nome atribuído ao sucesso obtido pelo seus proprietários na fabricação da cachaça, caracterizados como exemplo de pessoas de garra que fizeram do nada brotar um empreendimento moderno e que desafia o mundo atual. Para isto, utilizam todo o material de produção da cana de açúcar, desde o bagaço à aguardente. Tudo se aproveita ou é reaproveitado, bem como a mão de obra local. Para tanto, há parcerias com empresas locais. Como exemplo, temos a sorveteria existente no centro da cidade (Picogel), que assumiu a proposta da proprietária e agregou ao sorvete a cachaça e deu nomes sugestivos a seus produtos: sorvete de maracujá triunfante, sorvete de chocolate embriagado, o de limão e o de abacaxi e outros, tornando os sabores diferentes, genuínos e únicos. Recebe turistas do mundo inteiro, em especial russos e japoneses.
Foi montada uma loja nas dependências do engenho. Uma delícia. Realmente, o engenho possui uma singularidade. Tem a Fonte dos Desejos originada de uma nascente da região, em que se jogam moedas, similar ao que acontece na Fontana di Trevi, em Roma/Itália, uma das mais badaladas do mundo, onde se coloca uma moeda e se faz a intenção de um desejo. Existe, ainda, uma lagoa com pedalinhos para adultos e crianças se distraírem. Além disso, há o recinto de degustação da cachaça e uma loja para adquirir produtos exclusivos, pois não dariam conta para o consumo do público cliente. Tudo foi bem pensado para servir de atrativo e marcar as pessoas que lá estiverem.
Após o roteiro traçado como rota da visita ao engenho, vem a parte mais importante – sua história, contada pela proprietária Maria Júlia, que faz questão de narrá-la, com muito orgulho, transcrevendo, passo a passo, como chegou até ali, as dificuldades e os desafios vencidos, que não a fizeram desanimar. Pelo contrário, foram ferramentas catalizadoras para caminhar adiante. Com suas palavras, diz que quer “incentivar as pessoas que sonham como ela, não desanimarem até conseguirem alcançar o que desejam”.
Areia tem bons hotéis e pousadas. A gastronomia é rica. Vai da típica regional, que se encontra nos restaurantes Vó Maria, Barretão e outros, até a cozinha internacional do Bambu Brasil da pousada Vila Real.
Pela rápida estada neste lugar, percebe-se uma região em crescimento e que se desenvolve unindo e articulando as forças comunitárias sem dependências políticas. Nas conversas com a comunidade, ressalta-se a atuação – a influência e o apoio técnico-cientifico do SEBRAE na orientação e aconselhamento de suas iniciativas empreendedoras. Verifica-se que há ali plantado o espírito de liberdade e de empreendedorismo pungente, que gerou transformação e mudança nas relações sociais, econômicas e políticas, promovendo, fortalecendo e assegurando o desenvolvimento sustentável. Isto é demonstrado por lideranças locais. Comprova-se, consequentemente, de que o povo unido faz a força e muda as relações estruturais que levam o alavancar do progresso ao alcance do que se deseja para atender suas demandas. Fiquei surpreendida com a cidade de Areia. Outros municípios deveriam seguir seu exemplo. Visitem. É um Brasil que está dando certo.
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OPINIÃO - 22/11/2024