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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Há 33 anos mataram Pixote a mão

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publicado em 03/11/2020 ás 06h49
Foto: Ayrton de Magalhães

Há 33 anos policiais de São Paulo mataram Fernando Ramos da Silva, o Pixote a mão, (personagem do filme “Pixote, (foto) a lei do mais fraco” 1980), de Hector Babenco. Poucos lembram. Eu queria escrever sobre o impronunciável gesto brutal do terrorista islâmico que matou a brasileira a mão, no interior da Basílica de Nice, na França. O nome dela era Simone Barreto, uma preta nascida na Bahia. Ódios que não se aplacam, ódios multiplicados.
O livro “As Mãos Sujas” (1948), que Sartre escreveu na corrente existencialista do pós-guerra, nunca esteve tão em sintonia com as tragédias mundiais. É um tema político.
Mãos sujas se multiplicam. Na canção “Drama”, “limpo no pano de prato, as mãos sujas do sangue das canções” de Caetano Veloso, que Maria Bethânia gravou no disco “Drama – o anjo exterminador” (1972), é o retrato da poesia que segue e arrebenta.
Mão dupla não quer dizer apenas troca de favores ou companheirismo. Mão dupla é amor.
Cansei de lavar as mãos. Pilatos lavou uma única vez e a cena ficou na memória da humanidade.
Minhas mãos envelheceram. O braço, o uso de acenar com as mãos já me cansa. Não sei por que estou escrevendo isso. Eu não quero escrever sobre a mão que matou a brasileira em Nice. Eu não tenho mãos para escrever sobre isso.
A adaptação da vida é difícil, aqui ou lá fora, tudo fica a meio fazer e o que é feito leva pelo menos uma vida toda. Já faz tempo que não se tem piedade.
Uma mão precisa da outra, sem necessariamente ajudar a amarrar o cadarço, pentear o cabelo, escovar os dentes, segurar o garfo. A brasileira Simone Barreto foi morta a mão.
“A Queda”, romance e filosofia, que Camus escreveu em 1956, é um monólogo, mas o interlocutor, mesmo invisível, nunca aparece, apesar de sempre estar lá. Assim somos nós, de mãos atadas.
A mão da caricia está ameaçada. Não nasceu pra isso. Nasceu pra ser mão, no apoio, na função, no trabalho. Minhas mãos envelheceram a teclar os dias, os textos, as horas – eu também. Mãos que matam, não são minhas.
Contando os dias para ver de novo uma mão apertando a outra, acariciando, batendo palmas, duas mãos a aplaudir. Mas não temos o que aplaudir.
Tem a mão do poema de Augusto, que afaga e apedreja. A mão na roda do poder, uma mão na pistola e outra no bolso. A mão que rouba, que mata, que esgana. E tem a mão que leva a colher a boca, uma colher de sopa, a mão que salva o mundo.
Eu queria escrever sobre Simone Barreto. À urdidura desse impronunciável gesto violento, me deixa de mãos vazias. Naquela igreja, em Nice, uma mãe de família foi assassinada a mão. Meu pranto, minha dor.

Kapetadas
1 – Não sei mais se livro é mesmo o alimento do espírito. Se é, então tem multidões jejuando por aí.
2 – Alguém tem que avisar às máscaras que elas não podem sair às ruas sem pessoas
3 – Hoje não tem som na caixa

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