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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

I love you, boy

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publicado em 14/11/2020 ás 08h44
atualizado em 14/11/2020 ás 10h49

Meu pai me ensinou a ler. Já disse isso várias vezes. Não me canso. Não esqueço. Meu filho Vitor, está me ensinando inglês. Isso tem mexido comigo. É uma aula simples, para um homem velho. Se eu aprender pra valer, formarei frases e diálogos, será um tijolo num desenho lógico. Vou conhecer lugares que me despertará o desejo de falar com outras pessoas. O que quer e o que pode esta língua?

Vou cantar a canção “Nature Boy”, de Eden Ahbez (que o poeta Vinicius de Moraes fez uma versão), que fala de um menino encantador que vivia entre a terra e o mar. Quem sabe gostando e querendo bem, eu vou mais além. Feito criança que vai descobrindo e apontando com o dedo cada novidade, exclamando veja aquilo, por que isso é assim, desde quando está aí, quem fez? Eu sempre quis ir além do I love you.

Eu sempre quis aprender inglês, filmes em inglês, livros em inglês. Já estamos na sétima aula. Nunca é tarde. Tudo muitos simples, girl, man, boy, wonderful, até a formação de frases. Eu já sabia como se falava janela, mesa, apple, os dias da semana. O sol, a lua e estrelas, mas é bem diferente do que eu imaginava.

Não sei se a pandemia terá um fim, nem como se diz pandemia em inglês. Pandemic? Não me interessa. Já faz muito tempo, né? Apesar das ruas estarem cheias, eu continuo com juízo. Mas ainda quero tergiversar.

Sem “morder a língua”, hoje em dia eu penso muito antes de gastar as palavras de que disponho, penso muito para formular cada frase para ser compreendida. Sentir sensações desconhecidas, me perdendo e me achando, os detalhes, certamente, para mim, a melhor forma de conhecer o mundo. Sei que não existe coisa mais importante que o idioma.

Assim vou aprendendo outra língua, como quem vive um paradoxo que transforma a aventura de redescobrir o mundo e apreendê-lo e de acumular palavras novas. Muito embora isso não tenha nada a ver com as aulas de inglês.
Falar inglês será uma descoberta.

Uns vão a Paris ver o Louvre, outros vão a Roma ver o Papa e muitos ficam cegos de ver a mesma coisa.

Eu não sou noticia, mas me visto dela. Ver meu filho me ensinando inglês, me faz mais forte. O jornalista austríaco Karl Braus (1874/1936), disse que só se domina a linguagem dos outros. “A minha faz de mim o que quer”.

Surpreendentemente (ou não) eu estou apreendendo outra língua, numa espontaneidade que responde pelo avanço do aprendizado – um filho que fala bem inglês, coisa que meu pai não pode fazer por mim
I love you, boy – pela cenas privilegiadas, as aulas, a paciência e a simplicidade de seus gestos, que favorecem ao meu espírito, cujo curso natural sempre foi conhecimento. Você me faz feliz.

Kapetadas
1 – Ensinem seus filhos a serem carinhosos faça um bem para a humanidade.
2 – Nota: Se vocês continuarem se aglomerando como se não houvesse amanhã, realmente não haverá.
3 – Som na caixa: “There was a boy/ A very strange enchanted boy”, de Eden Ahbez.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB