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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Conversa de barbearia

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publicado em 26/11/2020 ás 07h00
atualizado em 25/11/2020 ás 19h38

Histórias fascinantes, curiosas, engraçadas e até inverossímeis não encontramos apenas nos livros. As relações sociais estão recheadas delas. Mas, a vida imita a arte ou a arte imita a vida? Eis o busílis da questão.

Tal qual antessala de consultório médico, a sala de espera de barbearia não nos proporciona informação atualizada, pois as revistas e jornais disponíveis para os pacientes e clientes estão sempre desatualizadas. É nessa hora que uma conversa descontraída e sem grandes pretensões nos distrai, informa e nos ajuda a passar o tempo.

Pois foi justamente na barbearia que frequento que o barbeiro, navalha em punho (foto), escanhoando meu rosto, narrou a história que repasso para vocês:

Uma mulher, casada há alguns anos com um marido reconhecidamente bruto, farrista e malcheiroso, que rotineiramente chegava em casa tarde da noite, recedendo a cachaça e sempre era recebido com a passividade e conformismo da esposa. Mas, no fundo não estava conformada com aquela vida, pois temia dizer ao companheiro que não mais o aguentava e queria a separação.

Numa dessas noites o marido ao chegar em casa encontrou a esposa na sala, olhar fitando lugar algum, diferente. Indagou o que estava acontecendo, ela relutava em responder, ele insistia. Ela revelou: sabe o Ricardo, nosso vizinho? Veio hoje me chamar para fujir. Mas, pelo amor de Deus, não faça nada com ele! Furioso, peixeira reluzindo, foi ao encontro do vizinho. Ela monalisou um sorriso. Ao seu modo, havia traçado o destino dos dois.

Mas não se sentiu culpada. Ricardo não aceitou a proposta dela para fugir e preferiu ficar com a esposa. Então, se não me quer, com ela também não fica. E o marido brutamonte, condenado a doze anos em regime fechado, lhe deu, enfim, sossego e um pouco de liberdade.

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