João Pessoa, 26 de novembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O dia vinte último marcou as comemorações do 77°aniversário de fundação da Sociedade Brasileira de Cardiologia e o início do 75º Congresso Brasileiro de Cardiologia. A solenidade foi restrita a diretores e homenageados, em face da pandemia, e transmitida pela plataforma Zoom.Na oportunidade, além das homenagens prestadas a alguns luminares da especialidade, foi inaugurado o mural que se reporta à história da cardiologia brasileira, de autoria do consagrado artista plástico paraibano, Flávio Tavares.
A entidade foi fundada em 1943 por um grupo deeminentes médicos brasileiros liderados por Dante Pazzanese, destacando-se a participação, entre outros , de Luiz Décourt, Bernardino Tranchesi, Ovídio Montenegro, Arnaldo Marques, Vieira Romeiro, Rubens Maciel e do paraibano Genival Londres.
Nessa mesma época,o famoso muralista mexicano, Diego Rivera, a pedido do cardiologista IgnacioChávez,concluía um painel que se encontra afixado noInstituto de Cardiologia do México e que representa um marco na cardiologia mundial . Rivera conhecido por seu grande talento, foi casado com a não menos famosa pintora Frida Kahlo, uma história de amor conturbado, com divórcio, e novo casamento, permeado também por traições de ambos os lados. É bem conhecidoo relacionamento de Frida com o ativista russo Leon Trotsky que se exilou no México e foi acolhido por Rivera.
Chávez propôs ao artista mexicano que retratasse o progresso da ciência, lento e difícil, segundo ele, e os médicos que a duras penas lutaram e contribuíram para o avanço da especialidade. Assim, na sua tela , ele agrupou, de um lado anatomistas e fisiologistas que marcaram o conhecimento sobre o coração e a circulação sanguínea (Vesalius, Harvey, Galeno e Malpighi)e do outro, os esculápios responsáveis pelas conquistas no diagnóstico e no tratamento das doenças cardíacas.
Sete décadas após, com semelhante intuito, e, por solicitação de Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Flávio Tavares pinta uma extraordinária tela alusiva à história da cardiologia brasileira, reproduzindo com incrível fidelidade personalidades que marcaram e contribuíram para sua história, desde a fundação.
Em destaque, emergem as figuras mitológicas representadas porHígia ou Higeia, a deusa da higiene, simbolizando a prevenção, e o Asclépio ou Aesculápio, deus da medicina e da cura.
No centro são retratadas os cientistas e médicos extraordinários Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, este último que elucidou a doença que recebeu seu nome, que evolui, entre outras complicações, com a conhecida cardiopatia chagásica. Outros eminentesesculápios são fielmente retratados, entre os quais,Zerbini, Abib Jatene, Miguel Couto, os paraibanos Genival Londres e Quintiliano Mesquita, entre tantos outros que se dedicaram com muita competência e desprendimento ao enfermo, trazendo inestimável contribuição à à ciência, à medicina e à cardiologia brasileiras, sem deixar de registrar algumas figurasnotáveis de outras plagas como William Harvey, Einthoven e o mexicano já citado Ignacio Chávez.Enfermos são também representados, seu fácies de sofrimento, os meios de diagnóstico ,e as instituições que constituíram o berço da pesquisa e do acolhimento dos enfermos, como a Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz) e o Incor, num registro que contempla mais de um século de história.
Na moldura, estão representadas as oferendas numa alusão à medicina e ao misticismo.
Muito mais se poderia discorrer sobre essa notável obra, um marco para a cardiologia dos trópicos, mas deixo para os amantes da arte sua contemplação, e a interpretação de suas nuances e simbolismos.
*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina
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