João Pessoa, 08 de dezembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
As luzes estão piscando. João Pessoa e cidades do mundo repetem a cena. O que não provoca nenhum entusiasmo. A forma de mostrar que o Natal chegou, nesse ano terrível, onde nada acontece e tudo tem acontecido, não tem graça. É Lucas, o evangelista, quem nos conta a história do nascimento de Jesus no presépio.
A palavra “praesepe” na sua forma latina, significa estábulo ou manjedoura. Não sei porque a explicação, mas Lucas disse e está dito. No local de nascimento de Cristo as pessoas aproveitam para fazer selfies. Quando estive em Jerusalém, lembro que um guia disse: “foi aqui que Jesus nasceu”. E eu achava que era em Belém. Jesus nasceu bem antes. Jesus nasce amanhã.
O espantoso é que o poder atrativo que empolga os homens é o brilho, o esplendor, a riqueza, o glamour, a fartura, o poder, e tudo mais. Mas tudo é muito mais: os guarda-roupas estão entupidos, sapatos e joias em suas caixinhas.
Tudo provém ao contrário, da carência global, da completa ausência de pensar em dividir. Cristo, o Deus feito homem, nasce da privação de posse e do desapego. Difícil, né?
Que significado civilizatório e cultural tem este fato? Qual fato? O Natal? A manjedoura? Ele contraria a tendência natural dos homens para aquilo que distingue. O homem, por natureza, admira não é só a riqueza, ou ganancia pelo poder, o homem admira a si mesmo, como se só houvesse ele, nunca o vizinho.
Olhamos para nós no espelho, uma calota esférica, para o que se passa à nossa volta e percebemos que a riqueza, o brilho, a dominação, a fama, a glória, tudo é desse mundo.
Na ótica severa do que nós, homens, somos, o presépio é lindo, mas o fato de ser lindo, não é o significado real. E é tão absurdo que não se desencana ao contrário. Basta ver as festas natalícias, sempre coloridas.
Não é apenas um absurdo interessante na cultura de raiz de todas as civilizações. É também espantoso. A atenção do Papa Francisco, para indignação de tantos com e tantos sem, tem dado aos pobres à condição de pobreza eterna.
Nunca vi tanta gente preocupadíssima com a saúde, certamente por conta da Covid 19. Ou seja, solidário na hora do câncer, nem como lembrou Otto Lara Resende.
Este é o tempo em que, apesar da dor, o presépio reina sobre a nossa imaginação. Então, feliz Natal, antes do Natal!
Kapetadas
1 – Biscoito de maisena com manteiga é melhor do que muita sobremesa. Mas vocês não estão preparados pra essa conversa.
2 – Pois é, a coisa mais desinteressante que existe é um interesse só, somente só.
3 – Som na caixa: “Se é praga ou oração/ Mil vezes cantarei!/ Laia ladaia sabadana ave-maria …”.
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OPINIÃO - 22/11/2024