João Pessoa, 09 de dezembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um casal bem sucedido, com três filhas e um filho formados, uma família de classe média ajustada e feliz. O sustento e as despesas com a escolaridade da família vinham de uma padaria que dava condições de bancar os custos e viver sem esbanjamentos. Tudo ia bem, quando um dia Rodolfo percebeu que Amanda, que era seu braço direito à frente dos negócios estava esquecida; já não memorizava mais as coisas e foi notando que cada vez mais aqueles sintomas agravavam-se. Procuraram um médico e constatou-se o quadro de Alzheimer.
Rodolfo, desde o primeiro momento, se propôs a cuidar de sua esposa. Sem precisar da ajuda das filhas e do filho, assumiu a assistência que ela necessitava. Abandonou os seus negócios e arrendou a padaria por um período de 4 anos.
O Alzheimer foi descoberto em 1906 pelo psiquiatra alemão Aloysio Alzheimer (foto), autor de estudo de caso de um paciente com 51 anos cuja autópsia identificara a existência de lesões cerebrais características que atingem as funções mentais como pensar, falar, aprender, memorizar, planejar e outras. Para que isto aconteça faz-se necessário que as células nervosas, os neurônios, enviem sinais através de impulsos elétricos umas para outras, chamados de sinapses. Nos indivíduos com Alzheimer há alterações tóxicas que impedem os neurônios de se comunicar e morrem. Segundo o Ministério da Saúde a doença afeta 33% da população com mais de 85 anos. Não existem dados consolidados. No Brasil, estima-se que temos 1,5 milhão de pessoas acometidas. Projeta-se que em 2050 o número de casos atinja de 4 a 5 milhões. O dia 21 de setembro foi instituído como “Dia Mundial da doença de Alzheimer”, pela Associação Internacional do Alzheimer. Objetiva estimular a consciência e chamar a atenção da sociedade sobre a doença, que é degenerativa, progressiva e não tem cura; afeta mais as mulheres. Nos estágios mais avançados impedem as pessoas de exercerem suas atividades cotidianas, reconhecer os outros e relacionar-se.
Muitos estudos existem e encontram-se em evolução. O Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, do Rio, tem a finalidade de estudar os impactos sociais e econômicos do aumento da expectativa de vida no Brasil. Constata que pessoas, acima de 70 anos, muito delas não querem ficar paradas e podem viver com qualidade, fazendo exercício e praticando esportes ocupando os espaços livres. Alguns Estados oferecem gratuitamente serviços à comunidade através dos Centros Integrados de Saúde e Educação (CISE), como o Rio Grande do Sul, que mantém a Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC). Observa-se que nas cidades que mantêm serviços de internet, TV a cabo e assistência a pessoas idosas, o Índice de Desenvolvimento urbano para longevidade melhora a qualidade de vida. São criados projetos e espaços públicos de convivência para tirar o idoso do isolamento e oportunizar atividades de relacionamento social. Estão descobrindo novas formas de viver. Hoje, em função da pandemia, essas atividades estão limitadas, seguindo o protocolo sanitário para o coronavírus.
Amanda passou quatro anos padecendo com a evolução da doença. Os membros da família que estavam em seu entorno muito sofreram e, de maneira particular, Rodolfo. Companheiro inseparável, via a cada dia a vida se esvair e não poder fazer nada para amenizar. Houve um momento em que ele percebeu que sua amada deixara de existir, já havia morrido em vida, não mais reconhecia aquele que era o seu verdadeiro amor. Não mais se dava conta do que acontecia ao seu redor e a indiferença era acentuada. Até que uma noite ela foi dormir e não acordou mais. Rodolfo disse: “descansou e deixou seu vazio em mim. O meu amor era grande, preferia ela aqui, mesmo sem saber quem era eu, mas estava comigo a mulher que me havia feito feliz na vida”. Com o término do contrato da padaria, retomou sua rotina, porém sem muita motivação, mas como uma maneira de matar o tempo. Sua filha disse-me: “O amor de papai não conheceu limites”. Fica o exemplo para todos nós. Como fala o pensador: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”.
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OPINIÃO - 22/11/2024