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João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

Doutor, é virose?

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publicado em 10/12/2020 ás 06h47

Esse é um questionamento comum dos pais, nos consultórios pediátricos, ao externarem sua preocupação em relação ao provável diagnóstico da doença de seu filho, com febre sem causa aparente ou poucos sinais clínicos, respiratórios ou digestivos. Na verdade, tal diagnóstico – aceito por alguns com certa desconfiança, quiçá admitindo no imaginário que seria a alternativa do médico que não está seguro em relação à causa da enfermidade -, constitui um dos mais freqüentes na prática médica diária. Isto porque, a maioria dos quadros infecciosos febris, na população infantil, é causada por lloveis, sobretudo o rinovírus (foto)

Todos já ouvimos falar de muitas doenças causadas por vírus: gripe, poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, catapora, raiva, febre amarela, dengue e outras arboviroses, etc.; no entanto, muitas outras que apresentam sinais e sintomas respiratórios (febre,tosse, falta de ar) , digestivos (febre, vômito, diarréia, dor abdominal) ou gerais( febre, fraqueza, mal-estar) , e que não têm denominação específica, são conhecidas genericamente como viroses.

As viroses respiratórias são mais comuns no outono e no inverno, enquanto que as gastrointestinais predominam nos meses quentes. As crianças pequenas são mais susceptíveis, sobretudo as que freqüentam creches e berçários, que chegam a apresentá-las quase que mensalmente; a incidência reduz com a idade, em geral, após os 3 anos. São processos usualmente benignos , auto-limitados que duram em média, 3 a 4 dias , e regridem espontaneamente, podendo, no entanto, complicar com infecções bacterianas secundárias( rinossinusite, otite, etc.).

Neste contexto, emergem também os quatro tipos de coronavírus( alfa e beta), responsáveis por quadros respiratórios benignos com os quais há muito convivíamos, e que passavam até despercebidos. Na última década, no entanto, surgem três tipos, altamente virulentos, relacionados a sérias complicações, entre as quais a SRAG( síndrome respiratória aguda grave): SARS-Cov, MERS-Cov e recentemente o SARS-Cov- 2, responsável por essa assustadora pandemia.

Na criança, felizmente, os quadros em geral são muito benignos, embora possam eventualmente complicar com a chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica.

A verdade é que não devemos negligenciar, sobretudo em face dessa nova onda que nos importuna. É uma doença nova, sobre a qual ainda temos muito o que aprender. Diversos fármacos antivirais e o uso off label de alguns medicamentos tem sido proposto, sem a comprovação definitiva da comunidade científica. Condutas heroicas, como o emprego de plasma de convalescente e anticorpos monoclonais têm sido adotadas.

Medidas preventivas como o distanciamento social, a higienização adequada das mãos e o uso ininterrupto de máscaras devem ser observadas rigorosamente para sua própria proteção e a dos circunvizinhos, enquanto aguardamos com muita expectativa a vacina que , para nosso alívio, brevemente deverá ser aplicada em nossa população.

E, em meio a tantas criminosas fake news e a politização de um assunto tão sério e relevante, faço questão de anunciar que tomarei a primeira vacina aprovada pela ANVISA, independentemente de sua origem ou cor ideológica.

*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina

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