João Pessoa, 15 de dezembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em março passado, o escritor peruano Mario Vargas Llosa escreveu sobre o novo coronavírus, afirmando que a pandemia poderia ter sido evitada se a China, o país asiático, não vivesse uma “ditadura” e chama a doença de “vírus proveniente da China”. A china tentou dar o troco, e classificou a coluna de Vargas Llosa, (publicada no jornal El Pais), de “irresponsável” e “preconceituosa”. Vargas Llosa não é contraproducente. É veloz.
No texto, o autor de 83 anos, disse que a sociedade global está “retornando à Idade Média”, quando as pessoas viviam com medo de pragas. Vargas Llosa atribuiu a escalada do coronavírus ao “sistema político antidemocrático da China”, destacando o fato de que os médicos que tentaram denunciar o início do surto foram silenciados. Ou mortos?
Ele comparou o tratamento dado ao problema pelos chineses com o desastre de Chernobyl. E não venha com… e daí? Estamos acabando o ano em pandemia. Vargas Llosa tinha razão?
Vargas Llosa escreveu livros discutíveis nos últimos anos, mas “Os filhotes”, “A cidade e os cachorros” e “Tia Julia e o escrevinhador” já são merecedores do Nobel que ele ganhou em 2010. Estamos em 2020 – ainda. Faltam poucos dias, mas devemos pensar diferente sobre 2021?
Reli uma entrevista que ele deu na época do Nobel, em Madri, com 74 anos. E não me impressionou o fato dele acordar cedo e fazer caminhadas, musculação e exercícios. Vamos imaginá-lo bombado.
Ele tem em sua casa milhares de miniaturas de hipopótamos. Eu tenho cedês.
Em 1950 seu pai o colocou no Colégio Militar, em Lima, na certeza que ele deixasse de lado o gosto pelos livros. Ora, um pai desse não tem quem queira. Como um pai manda o filho para uma escola militar, com a intenção que ele esqueça uma das melhores coisas, o prazer da leitura. Sim, mas precisa ter o habito e gostar realmente de ler, para ficar gigante como Vargas Llosa, que era filho único de Ernesto Vargas Maldonado e Dora Llosa Ureta, – os pais se separaram após cinco meses de casamento. Imagina!
Ele disse que foi o período em que mais leu. “A solidão do internato, sobretudo nos fins de semana, teria sido insuportável sem a leitura. Eu tinha 14 anos e ficar internado me causava imensa claustrofobia. A leitura era uma liberação, uma maneira de escapar. Dessa época, lembro de ter lido Os miseráveis, que foi uma experiência muito importante”.
Vargas Llosa lembra também que o romancista francês, Victor Hugo, está inseparavelmente ligado aos seus anos no colégio militar: “sem dúvida, ele foi, com Alexandre Dumas, o melhor amigo que tive lá dentro. Li toda a série de Dumas, Os três mosqueteiros, tudo. Li muitos romances de aventura e romances franceses. Meu pai me colocou no colégio militar para que os militares me curassem daquilo que ele chamava de enfermidade literária. Mas acabei lendo ainda mais, e ganhei a experiência que me permitiu escrever meu primeiro romance, A cidade e os cachorros.”
Apesar de não ser autobiográfico, lembra o autor, o livro foi feito a partir de imagens do colégio militar. “Lá, era um escritor profissional, escrevia cartas de amor e historinhas pornográficas para meus colegas. Trocava os textos por cigarro e às vezes algum dinheiro”.
Sua ida para colégio militar foi um negócio da China, como dizia meu pai, (que ao contrário do pai de Vargas Llosa ), me incentivou a ler.
Enquanto estamos vivos, com medo dessa praga, fica uma dúvida – Vargas Llosa tinha ou não razão? Um país numa eterna ditadura, nada de bom pode oferecer, nem pode se esperar. Vamos esperar, né? Esperar o quê?
Kapetadas
1 – Estava no Pão de Açúcar e pensei – será que temos dificuldade em manter a energia quântica presa nos átomos de carbono que personificam o corpo físico?
2 – Já tem o filme “Se casar, beba”?
3 – Som na caixa: “Será que ele está no Pão de Açúcar? Tá craude brô/Você e tu/ Lhe amo”, Caetano Veloso
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OPINIÃO - 22/11/2024