João Pessoa, 22 de dezembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O primo Irio da Nobrega nos faz lembrar de uma visita que sete mulheres fizeram a sua casa. Todas entre sessenta e poucos e oitenta anos. Não sei o porquê, mas não ostentavam os nomes comuns daquelas que vinham do ambiente rural. Quais nomes? Severina, Cicera, Maria, Maria de todas as formas: das Dores, da Consagração, da Anunciação. Maria da Glória, Marias sempre tinham.
Maria também estava ali. A primeira da formação em duas filas. Casou-se com um primo e foi morar no Rio de Janeiro. Visitei Maria algumas vezes, num apartamento em Ipanema, cuidando dos netos, depois que sua única filha se foi. Depois vem Ana. Santa Ana, uma baixinha, de bom coração que ficou lá no pé da serra por muitos anos. Até que o crescimento dos filhos a fez sair.
Isaura se casou com um Nóbrega e construiu uma família de músicos e artistas que, infelizmente, não se arvoraram por esse caminho. Viveu tempos pelo Recife, onde a maioria das crias fizeram faculdade. Lembro do doce de leite que sempre nos oferecia, quando passávamos em sua casa-restaurante. Quer melhor doce na vida?
Horacina virou uma espécie de vitalina. Tao emperiquitada que não encontrou nenhum homem a sua altura. Letrada, viveu sozinha. Escreveu sua própria história, e guardou tão no fundo de alguma dispensa que o cupim comeu. Porque é bem assim: precisamos construir. Usar. Viver. E nos arriscar. Se ficamos parados em nós mesmos, tudo se destruirá conosco, por uma lei do desuso.
Lindalva amava Lula e não havia negociação para que não estivessem juntos. Nas viagens. Nas refeições. No banho. Tudo feito a dois, como se um usasse as mãos do outro. Mãos do desejo e do sentimento. Lula teve um enfarte. Dalvinha demenciou dois anos depois. Não viu sentido nenhum nesse vasto mundo, sem a luz de Lula a lhe iluminar.
Alzira partiu faz alguns meses. E Terezinha continua a cuidar da ninhada de netos e bisnetos que seu casamento lhe deixou. Não deve ter sido fácil a conjuntara dos astros para que pudessem estar juntas na mesma fotografia. Nunca é fácil juntar irmãos, depois que o tempo os faz senhoras de si e de seus próprios destinos.
Sete mulheres desconhecidas. E por que uma crônica? Porque mulheres comuns, não deixam histórias dessas que contam em revistas . Não ilustram livros, nem rodapés. O deixam é uma energia pairando nesse espaço imenso da alma; que, por puro merecimento, fixa-se no coração de novas gerações que as continuam. Pedaços de DNA que vão sendo divididos, até que reste, somente, uma vaga lembrança em descendentes distantes. Por força, tudo se fixa numa fotografia emoldurada na parede, para que nunca esqueçam, nem dessas sete, nem nenhuma mulher que passou.
Queria, nesse Natal, uma casa com essas sete mulheres. Com todas as falas e histórias. Com todos os destinos que só as mulheres sabem dar. Com todos os arroubos passionais, ciúmes e seus jeitos únicos de amar. Mulheres tão lindas.
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TURISMO - 19/12/2024