João Pessoa, 24 de dezembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Os anos são assim, compostos de perdas, conquistas, tristeza e alegria, inovação, empoderamento, lutas por mudanças estruturais, busca por espaço e reconhecimento, por todos da dignidade do ser humano. O ano de 2020 teve tudo isso e um desafio a mais: vencer o inimigo oculto que lançou no mundo a pandemia provocada pelo Covid 19 que tantas vidas ceifou trazendo consigo medo, tristeza, desolação, isolamento, perdas materiais, mas também ensinando a ressignificar nossas atitudes e hábitos. Tom Zé (foto) nos conforta quando profetiza que “um dia a felicidade vai desabar sobre os Homens”. Mas o Natal chegou e estamos aqui e vamos celebrar a vida na esperança de dias mais saudáveis.
O período natalino sempre traz boas lembranças da infância. Da montagem da árvore; da decoração da casa e da expectativa do presente (ah, o comércio é cruel, com seu marketing agressivo). O presépio representava bem mais que o nascimento do menino Jesus na manjedoura. Era o cenário aonde iam se juntar aos personagens bíblicos meus super-heróis, companheiros de brincadeiras infindas, todos egressos do interior de um pote de achocolatado Toddy, item indispensável na feira semanal.
Não há como dissociar o Natal do peru, ave que simboliza o prato principal de sua ceia. Na casa de minha infância nunca se comeu peru antes da festa natalina. Ainda hoje é assim, quem paga o pato, ou melhor, o peru é o frango, prato apreciado quase que diariamente.
À nossa casa acorriam parentes e amigos e todos eram contemplados na distribuição de presentes. Não víamos Papai Noel mas tínhamos a certeza de que ele era o responsável por deixar em nossa árvore todos aqueles mimos. Quanta lembrança boa, principalmente do sorriso de minha mãe ao contemplar nossa alegria pueril. Ela, que personificava o verdadeiro espírito natalino com sua bondade e desapego às coisas materiais.
Aquela lição ainda hoje reverbera no menino adulto no qual me transformei. Hoje nossa casa também está ornamentada com motivos natalinos. Minha mãe já não está entre nós, mas a prenda na decoração cabe agora a Cristiane, companheira e mãe dos meus filhos menores que juntos com os outros três filhos adultos celebraremos a data na perspectiva de um mundo melhor, misericordioso e justo, pleno de luz e equidade.
Porque, como poetou Vinícius de Moraes: “Pois para isso fomos feitos:/Para a esperança no milagre/Para a participação da poesia/Para ver a face da morte/De repente nunca mais esperaremos…/Hoje a noite é jovem; da morte, apenas/nascemos, imensamente”.
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