João Pessoa, 25 de dezembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Conheci Terezinha, (foto) eu como sua aluna do Curso de Pedagogia, em 1975, ela professora da disciplina Currículos e Programas, recém chegada do México, após o seu doutorado, muito entusiasmada e empolgada; aliás, em tudo que realizava empregava corpo e alma. Na sala de aula dominava o conteúdo, demonstrava conhecimento na experiência teórico-prática e mostrava-se responsável em motivar e incentivar o processo de aprendizagem. Criava oportunidades para que o estudante se sentisse motivado e interessado em seu objeto de estudo. Havia planejamento didático-pedagógico. Descortinava o desenvolvimento da disciplina de forma prazerosa; sentíamos que tinha firmeza, determinação, objetivo, inovação e criatividade.
Percebia-se ao ensinar que contemplava na íntegra as dimensões do processo ensino- aprendizagem – sócio-política, técnica e humana, quando não se furtava a opinar sobre o que era correto ou o que se mostrava equivocado, sem contudo constranger o aluno, deixando-o bem à vontade para tomar sua posição. Com relação a teoria e a prática, sabia orientar o discente iniciante a portar-se com autonomia respaldado pela epistemologia didática. Tivemos oportunidade de trabalhar juntas como docentes na pós-graduação de Enfermagem, na disciplina Saúde e Educação. Acompanhei de perto seu compromisso, com o processo de ensino, obtendo, na avaliação dos alunos, no final do curso, nota 10, por unanimidade, em que destacaram sua postura metodológica construtora do conteúdo e sobretudo a competência e eficiência no seu desenvolvimento, que levava o discente ao êxito da aprendizagem. Fez parte do Conselho de Pós-graduação em Enfermagem, nos seus primórdios. Como coordenadora, constatei sua contribuição lúcida e valiosa, pois o Curso de Mestrado estava engatinhando, dando seus primeiros passos.
Outra ocasião em que atuamos juntas foi durante os cursos de atualização e treinamento para docentes de ensino médio no interior do Estado, em escolas pertencentes à Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC). Trabalho voluntário. A Campanha nos dava alimentação e hospedagem. Este programa era coordenado pela devotada professora Lourdes Henriques, nossa amiga comum, empenhada no crescimento educacional da CNEC, e que sempre nos convocava a participar. Terezinha tinha um bom coração, praticava a caridade ajudando pessoas que estavam em seu entorno. Aposentou-se mas não deixou o trabalho e a militância acadêmica, participando da diretoria da ADUF, onde prestou grande contribuição nos setores administrativo e cultural, apoiando as reivindicações dos aposentados. Era a nossa voz naquela Associação. Não casou, mas dedicava-se aos parentes ajudando-os a se formar. Religiosa praticante, cumpria todos os rituais religiosos, auxiliando e participando de atividades da sua Paróquia. Fazia aniversário dia 2 de janeiro mas comemorava no dia 06, dia de Reis. Convite a que não se podia rejeitar porque ela insistia até conseguir nossa presença. Acontecia em sua casa. Festa singular, religiosa, preparada com muito esmero e capricho. Tudo de bom e do melhor, comes e bebes e o bolo decorado com motivos natalinos. Comparecemos por vários anos. Lá estavam seus amigos, padres, colegas, vizinhos, médicos da família. Reunião realizada de acordo com a liturgia da época. Havia bênção, sermão e discursos daqueles que quisessem usar da palavra, e, aos que não, os forçava a dizer alguma coisa, de modo que todos participassem. O clima era de alegria e muita satisfação.
Há um mês telefonava, passava mensagens pelo Watsap e não recebia respostas. Margarita, uma amiga comum espanhola, reclamava-me que ela não dava notícias. Até que recebo uma mensagem de Lourdes Henriques: Terezinha estava muito doente e se encontrava na UTI do Hospital Nossa Senhora das Neves. Orei por sua recuperação. Dia 11 de novembro tive a triste notícia de que minha amiga havia falecido.
Sua morte, em período que curtia tanto, levou-me a pensar. Este momento de grandes sofrimentos, doenças, perdas de vida, serve de reflexão para questionar a nossa vida. Quem somos? O que temos sido nessa terra? Analisar que nada somos sem o poder de Deus. O mundo festeja os avanços da ciência e da tecnologia, os cientistas consideram-se donos do mundo e de seu destino! A pandemia veio provar que a própria ciência não tem respostas prontas, por mais que haja se desenvolvido e avançado. Somos impotentes, frágeis que nem um sopro de vela. Cabe, no seio da família, entregar-nos ao amor de Cristo e viver o ato de amor todos os dias. Fazer o bem aos nossos irmãos e orar pelos que partiram. Parece que Deus levou-a para junto de si juntamente na época em que se celebra a maior reunião de amor e fraternidade – o Natal, de comemoração, para os cristãos, do nascimento de Jesus Cristo, que veio ao mundo para a redenção do homem.
Partiu sem dizer adeus ou um até breve. A professora Terezinha não morreu, como todo bom professor nunca morre, por que ela deixa um legado de aprendizado que vive em seus alunos e que a faz imorredoura. Como diz o teórico pedagogo Ghiraldelli (2003): “A verdadeira aula acontece fora da burocracia acadêmica, quando o professor está distante do aluno e ele consegue lembrar e praticar o que o professor ensinou, aí a aula está acontecendo. Este é o verdadeiro professor”. Assim foi Terezinha, verdadeira professora, que hoje mesmo, sem existir, se eterniza na mente e no coração de seus alunos. Minha homenagem e minha reverência a grande mestra.
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OPINIÃO - 22/11/2024