João Pessoa, 29 de dezembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Não era preciso o presidente do Supremo (foto) esperar que a matança de mulheres chegasse a uma juíza do TJ-RJ, para manifestar a necessidade de medidas que as salvem. São tantos os entreveros, que vamos nos manifestando à medida que os fatos nos estarrecem; mas, logo logo, um novo fato nos faz esquecer, e deixamos de ver o que se passa embaixo de nossos olhos. Quando a cena aumenta de tamanho e sobe no podium das manchetes mais revoltantes, aí nos damos conta do triste cenário que nos cerca.
Não quero citar números, mas só lembrar que foram 648 mulheres assassinadas no Brasil, no primeiro semestre de 2020. Se dobrarmos esse número, foram quase 1300 mulheres no ano inteiro. A Dra. Viviane Vieira do Amaral , esfaqueada na frente de três filhas menores na Barra da Tijuca, pelo ex-marido, em plena véspera de Natal, pode servir de exemplo, para mostrar quanto se banalizou esse tipo de crime. Uma magistrada. Uma agente da Lei. Morta. Pelo crime de não querer retomar uma relação conjugal que já fracassou.
Mulheres viraram propriedades de homens fracassados, que incompetentes para preservar uma relação, tentam mantê-la sob dominação, sob ameaça, sob seu julgo e machismo, desrespeitando todas as referências que marcam a vivência em família e na sociedade. Vi , esses dias, uma pobre mulher moradora de um sítio que, depois de uma tentativa de assassinato, ganhou uma medida protetiva. E ela perguntava à repórter: – Como vou me livrar de um ataque dele, nesse lugar tão deserto?
Medida Protetiva não está protegendo. Feminicídio não está evitando. O problema não poderia estar no cumprimento capenga de penas? 30 anos viram cinco, sem contar as inúmeras outras possibilidades de abrandamento. Já escrevi pedindo proteção para as nossas mulheres. Jovens mulheres ( a maioria entre 25 e 35 anos), mães e trabalhadoras destemidas. Esses criminosos precisam ser tratados com mais rudeza, pois são rudes o suficiente para não respeitarem os próprios filhos, no momento de executar seus execráveis atos criminosos.
Pode ser que nada mude em 2021, mas desejo que, verdadeiramente, tomem-se medidas. Que “deixemos de coisas e cuidemos da vida. Senão chega a morte,” no meio da rua, no meio do nada, na calçada. Quando as mulheres mortas, na véspera de Natal, forem chamadas possamos escutá-las na voz das que ficaram. – Viviane Amaral, Ana Paula, Thália Ferraz. – Presente! Que estejam vivas e felizes, cuidando dos seus filhos. Ou coisa parecida, como ocorre nas canções mais belas, dos poetas que cantam o amor.
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OPINIÃO - 22/11/2024