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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Ballantines Jorram a Beleza Anarquista de suas Coxas Molhadas

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publicado em 02/01/2021 ás 07h05
atualizado em 02/01/2021 ás 00h07

      

No século passado, eu estava num restaurante japonês ou num salão de beleza chamado Temakiando. Na virada do ano eu ouvi uma bela canção do pernambucano Zé Manoel, que fala de uma civilização antiga de 2019 – “fecho olhos e me lembro de uma história que me dá vontade de chorar”. 

Chorei e lembrei de rescrever outra história tão antiga, que me aconteceu em 1980. De um texto que publiquei no dia 2 de janeiro, Jornal O Norte, em 1981. O título era esse: Ballantines Jorram A Beleza Anarquista de suas Coxas Molhadas. Aí você diz, por que começar o ano rescrevendo um texto que as traças devoraram? Porque noutro plano, te devoraria tal Caetano, a Salomé di Caprio, nas águas translucidas da Sardenha. Esquece.

Perguntar não ofende: se as traças comeram é porque o texto era bom. Feliz 2021, auditório! Aliás, não se sinta idiota por ter ficado em casa, orgulhe-se de você e dos outros.

O texto tratava de 12 meninas da orla de Manaira, que na verdade, eram seis, mas valiam por doze. Me lembro apenas de Alessandra Gurgel, que ainda é meu puro amor e Gerlena Palmeira. As outras quatro não sei que fim levaram.

Eu queria ter passado a noite do dia 31 na costa siciliana tomando vinho que não gosto e olhando os topless. Adoro garotas de topless, bate logo uma sensação de amassar as nuvens, num sol de rachar a terra.

Antes da passagem do ano, dei uma lida rápida num texto D. H. Lawrence (1885/1930). O escritor inglês parecia cansado de ficar quieto em seu quarto e ignorou Blaise Pascal (foto), que dizia que “toda a infelicidade dos homens provém de uma só coisa, que é a de não saber ficar quieto em seu quarto”. Pow!

Aí Lawrence escreveu: “No momento, a Sicília parece uma terra dentro de um aquário – toda água – e as pessoas gostam de caranguejos e camarões cinza-preto rastejando no fundo. Não gosto … Estaremos indo para o norte na primavera – prometemos ir para a Alemanha … talvez Sardenha – quem sabe”.

Isso dele dizer “quem sabe” me fez gostar bem mais do matemático Pascal, que foi educado pelo pai, que nem eu. Lawrence me fez pensar em centenas de milhares de pessoas que não conseguem ficar perto de si mesmas, que não seguram a onda de ficar a sós. Será que foi isso que aconteceu com as doze meninas da praia de Maneira, cujo ballantines jorrava em suas coxas molhadas? 

Incrivelmente azul, o ano novo chegou. Entre dialetos e loucuras, existe uma coisa maravilhosa por aí, que dispensa comentários – o ato de pensar que cada vez mais gosto de estar só e das muitas vezes que estive acompanhado. Só com a música de Zé Manoel – já me basta. Só, a gente vive muito bem. As doze meninas já não são meninas, nem moças, são ilhas, são peixes, são a própria eternidade.

A existência, a minha, a das meninas, remonta ao ano da graça tal, quando éramos jovens e não sabíamos. Estamos vivos e (tudo foi praticamente um sonho de verão na quadra da praia de Manaíra, e o lugar ganhou a cara que tem hoje, um tédio, um breu, sem as meninas e o precioso líquido do ballantines que ficou para trás… 

Puxa vida! Não consegui rescrever o texto Ballantines Jorram A Beleza Anarquista de suas Coxas Molhadas. Paciência, né? Quem sabe em 2030.

Kapetadas

1 – With gratitude, I celebrate 2 years of sobriety.

2 – Por que será que a gente ama tanto tanto tanto algumas pessoas? Até dói, né?

3 – Som na caixa: “Os dias tem sido quentes, mas é o frio na barriga que me conta ao saber, que tu perambula por aí, por ali, por onde?” – Poesia de BellPuá, do disco de Zé Manoel.

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