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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Não perca o juízo sem motivo

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publicado em 19/01/2021 às 07h00
atualizado em 19/01/2021 às 05h28

Uma amiga do K sussurrou que 2020 ainda não foi embora. É possível. Não dou mais alguns dias e o novo ano começa a ficar velho.

Sim, eu tenho cromossomos, mas não devo enlouquecer sem motivo, já que motivo a gente tem de sobra.
Descobri uma sensação esquisita que se apodera de mim com o livro “Tête-à-Tête” de Rowley, Hazel, 478 páginas, (que Diva Madeiros me emprestou). Sim, lá tem uma foto de Simone de Beauvoir nua, mas a nudez é uma coisa bela. A obra traz o lendário casal de escritores-filósofos Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre (foto em Copacabana, 1960) que tinha uma relação notavelmente aberta, o que gerava controvérsias e loucuras. As novas gerações precisam conhecer S e S.

Através de entrevistas originais e acesso a material inédito, a biógrafa Hazel Rowley, (que diz logo no inicio que não se trata de uma biografia) nos oferece em Tête-à-Tête o primeiro retrato do intenso e turbulento relacionamento dessas duas figuras, digamos, delirantes e colossais.

Talvez o problema seja ilimitado a quem padeça do” mal” dos livros. Conheço pessoas que passam as noites inteiras em claro e os dias cada vez mais iluminados; e assim, do pouco dormir e do muito ler, enchem o cérebro, de maneira que não perdem o juízo.

Entre livros – os que gostam e estão agarrados a eles nessa pandemia, há contendas batalhas, desafios, feridas, galanteios, amores, adversidades e disparates impossíveis.

A leitura nos afasta da confrontação com o ridículo das veleidades, apesar do incomparável deleite e fascínio, devemos sentir que além da música, a literatura tem nos salvado nesses pelos brasis.

A esperança citada por Caetano Veloso nas redes sociais, a esperança que vem das palavras, da música, tipo enlouquecer em cavaleiro andante como Dom Quixote, ou o magnifico Dante, com ou sem motivo, mas com toda sabedoria, o ponto alto está em perder o juízo lendo.

Com alguma persistência, todos podemos, todos, virgula, porque não é fácil abraçar o prazer da leitura.
Tudo é valioso, de uma biografia, aos poemas do Pessoa, pelo olhar hibrido que nos faz repensar a cena, o gozo, a razão ou a falta de, que nos permite avançar pelo discurso de uma obra, como quem abre portas para dar a volta aos shows presenciais ou deslumbrar-se com a visita de uma bela mulher. Ah, o jogo das palavras, do inesperado ermitão (para lembrar Pondé), ver que Simone e Sartre faziam loucuras de suas vidas, até terminarem mortos enterrados no mesmo túmulo. Voltemos ao casal? Agora não, só depois que o K acabar de ler o catatal – Tête-à-Tête. Ufa!
Por hoje é só. E não me “covid” para sair.

Kapetadas
1 – No butantã só tem cobra.
2 – Joguei fora todos os tapetes agora quero ver puxarem.
3 – Som na caixa: “Por quê forjar desprezo pelo vivos?/E fomentar desejos reativos?/Apaches, Punks, Existencialistas, Hippies, Beatniks/De todos os tempos/Uni-vos”, Caetano Veloso

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