João Pessoa, 20 de janeiro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Vivemos uma grande revolução tecnológica e relacional, e por motivos óbvios, mais intensamente no último ano. Apesar de já estarmos utilizando várias ferramentas de comunicação, durante a pandemia, subitamente o modelo remoto passou a permear toda a atividade mundial, no trabalho e também nas relações interpessoais.
Podemos definir Relacionamento Interpessoal como a ligação, conexão ou vínculo entre duas ou mais pessoas dentro de um determinado contexto. Este, por sua vez, pode ser o ambiente de trabalho, familiar, social, religioso, amoroso ou educacional. Podemos completar essa definição lembrando que para uma verdadeira relação interpessoal de comunicação efetiva, deve existir uma troca de energia, sentimentos e reações. Em algumas áreas mais, outras menos, porém a interpretação, afetividade e emoção devem acontecer necessariamente. Segundo o CEO da Target, Brian Cornell, “Não há substituto para conexões humanas”.
A internet permitiu com muita facilidade as relações intercontinentais. Mas e as relações interpessoais? É fato que observamos cada vez mais uma fragilidade das relações humanas, a formação e deterioração de vínculos interpessoais, a busca da satisfação imediata e fluidez de comportamentos postos na malha social e digital. Através das ferramentas digitais as relações são controladas e editáveis, desse modo, quase sem querer, as pessoas acham mais cômodas essas situações de controle de conteúdo e de tempo. Ou seja, interagir com aquilo que conseguimos controlar.
Zygmunt Bauman, em seu livro 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno, reafirma: “Em uma sociedade onde estar aberto às oportunidades é fundamental, o mundo virtual é extremamente atrativo na medida em que é possível estabelecer conexões com muita facilidade, e desfazê-las na mesma proporção, fazendo com que tudo seja breve, superficial e descartável.”
Para termos uma relação interpessoal de verdade, temos que exercitar a escuta e paciência ao outro, assim como disposição e disponibilidade. O olhar e enxergar são cada vez mais raros nos dias de hoje, pois o curtir substituiu a escuta e a conversa, sendo uma forma de check-in automático na vida do outro, como forma mais pratica e rápida de se fazer presente.
Monólogo coletivo. Certa vez ouvi essa expressão que me causou muita estranheza, porém hoje podemos fazer com ela uma analogia do que acontece nas redes sociais. Cada pessoa monitora, edita e filtra a sua vida para mostrar o melhor de si, seletivamente, e em contrapartida outros fazem o mesmo. Desse modo, cada um foca nas suas curtidas, impacto e comentários, traçando exatamente um grande monólogo coletivo, no qual, a minha fala é a que realmente me importa. As pessoas ideais começam a interagir sem se relacionar efetivamente, pois para isso, sabemos que devemos compreender e estarmos abertos ao contraditório, e no exercício seletivo as redes sociais o contraditório não faz parte, simples assim.
A pandemia nos fez íntimos das relações remotas, quase que como única opção viável, porém a grande análise é que essencialmente essa forma seja complementar e não a principal. Que a segurança da vacina, nos traga de volta a nossa vulnerabilidade emocional, de enxergar e ser impactado pela emoção do outro, pelas reações e pela verdadeira interação que o remoto por ser tão ensaiado e editado nos priva.
A edição das relações nos robotiza e minimiza o poder e a beleza das emoções, com seus riscos, diferenças, palpitações e dúvidas. Vivenciar o outro em sua integralidade nos desenvolve, faz nos sentir vivos, imperfeitos e falíveis, habilitados para viver as reais belezas da vida.
Como diz o cantor e compositor, Marcelo Falcão, “Viver não é fácil não. Tem que ter emoção, disposição”.
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OPINIÃO - 22/11/2024