João Pessoa, 21 de janeiro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Moda, inclusão e cera quente

Comentários: 0
publicado em 21/01/2021 ás 07h58


Nunca compreendi ao certo as tais tendências da moda, seja no outono, inverno e verão, quiçá primavera. Na busca desenfreada de ser diferente, todo o mundo termina se igualando, seja nos adereços, indumentária e até na pele tatuada.

À moda todos acorrem, independente de gênero ou etnia. Mas nas ruas, festas ou shoppings é fácil perceber que a mulher é a mais fiel seguidora do que se impõe como tal. E nos dá a sensação de déjà vu, de bumerangue, num interminável vai e volta. Lembram da calça jeans rasgada ao longo das pernas? É a febre do momento, mas também já foi tempos atrás.

O mais danoso de tudo isso é a chamada ditadura da beleza, que busca corrigir e dá a forma desejada. Na mulher é a forma esbelta, musculosa, glúteos em riste e seios siliconados; cabelos lisos e pelos dourados, seja de ascendência afro ou nipônica. Vejam que todas usam o mesmo sapatinho, a mesma calça ou short rasgados, os mesmos acessórios, tudo lindo, impecável e uniforme, conferindo à portadora o sentimento de que pertence a esse mundo. 

Entendo que sempre haverá um ideal, já que a postura interior é refletida na aparência. Sendo o ser humano um esteta, é previsível que busque a expressão mais burilada. O que preocupa é o modelo acachapante da natureza do indivíduo, muitas vezes renegando o seu código genético e impelindo-o ao ridículo. Adequar-se é a exaltação da ditadura, é atestar que além de aprisionado está-se também muito distante de  conhecer o que é autêntico. É a indústria da moda impondo a inclusão social através da ideologia de ser todo mundo igual para encobrir a solidão. E o esforço em ajustar-se ao modelo do momento é mais patente nas mulheres, que ao custo de suor e bisturi (e alisamento, tingimento e cera quente), estão constantemente em mutação, como já disse Kika Salvi (foto) Mas o certo é que a mulher, na moda ou não, será sempre bela, inspiradora e musa. 

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB