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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

A praça era nossa

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publicado em 28/01/2021 ás 08h31

A praça era um celeiro de variados personagens, cada um com sua característica; com seu modo de ser e de se relacionar, irmanados com o mesmo objetivo: ser feliz com o que a vida proporcionava. Coisas simples. Opulência nenhuma. Inveja, ódio, intolerância, maldade e traição já existiam mas não para as crianças e adolescentes que éramos. Até as traquinagens tinham uma aura de espontânea pureza.

Nos anos sessenta e setenta o Varadouro era a morada dessa turma boa, que só aos olhos dos infelizes e casmurros era desatinada. Fim de tarde a praça acolhia a todos. Pouco a pouco iam chegando Paturian e Araponga; Jessé e Pai do Mangue; Buginha e seus irmãos, filhos do intelectual José Plácido de Oliveira que morava defronte e escrevia suas crônicas e artigos, contemplando pela janela o pulsar da Praça da Pedra. E foi naquela casa que escreveu suas “Histórias Escondidas”, editadas por Heriberto Coelho (também frequentador da praça), dono do Sebo Cultural. Eram opúsculos que buscavam provar que Jesus nunca existiu e desancavam todas as religiões. Por estar sempre escrevendo, nós o apelidamos de Louquinho. Quanta ignorância nossa!

Letinho e Carreta do Pecado, filhos do radialista Marciano Soares, amigos de Jucão (psicólogo Elinaldo Leal), deste escriba conhecido por Juquinha e Maçã, já gostávamos de arte. Era o tempo que ninguém se preocupava em saber o patronímico de ninguém. Aliás, Maçã hoje é o brilhante e festejado professor de biologia Sérgio Malla, àquela época já com pendores para a docência. Como não recordar das estripulias de Clodoaldo, o Cristo da São Miguel? Que em companhia de Dodge e Pichilinga não perdiam um “assustado” nas casas alheias. Nas festas, nunca pagaram uma conta. Era a vida que fluía leve e sem pressa para essa rapaziada. Alguns aqui citados já faleceram, mas também sabiam que a praça era nossa e que ali fomos felizes.

Adhailton Lacet. Juiz de Direito

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