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Nova York, 1870. Gostei de rever “A Época da Inocência”, (1993), de Martin Scorsese, (foto) depois de ouvir trechos de uma palestra de Marcelo Backes, sobre o tema, que uma amiga me enviou. Não me lembrava ou talvez, no único dia em que assisti no cinema, nos anos 90, não me atentei para o murro que Scorsese consegue socar ao conciliar com maior destreza a multiplicidade de nossas escolhas. É uma descrição minuciosa de um período histórico, à maneira de filmes de época.
Curiosamente, fiquei ali horas vendo o filme e voltando para rever as cenas e diálogos, sabendo que tudo aquilo estava me matando. Eu me coloquei na pele da personagem de Archer. Esse filme, de todos os filmes, baseados em clássicos da literatura, emula as propriedades de um estilo literário. Aliás, supera. Nem parece livresco, nem cinema, é algo assustador.
“A Época da Inocência” invadiu meu quarto e o tornou mais frio, mais vazio, pois, o filme requer uma atenção redobrada aos detalhes tão pequenos de nós três. Claro que o homem é frágil, (eu sei), apesar da estrutura máscula, do suposto poder (inventivo), mas a personagem de Archer está presa a si mesma, com o coração acorrentado a uma a solidão que dilacera o desejo da liberdade, mesmo que tardia. Mas não vale.
A falta de coragem, a covardia, mesmo sabendo que o amor poderia ser correspondido. Tudo é possível em qualquer fase da vida, e a “época” que eu falo aqui é outra. Não se trata de ser jovem ou velho, já que na velhice só podemos permanecer calados, de mãos dadas ou atadas. O filme é cruel.
Baseado no livro de Edith Wharton (1862/1937), vencedor do Prêmio Pulitzer de 1921, Edith é a romancista da classe rica de Nova York.do século 19. O que se passa no filme e no livro, acontece todos os dias, quando nos defrontamos com as escolhas – muitas rejeitadas e raras interrompidas. É tão fácil e o fato de ser fácil, é que torna difícil.
Se eu for esclarecer de modo tão incisivo, minha opinião refletirá sobre a verdade da tragédia humana, que se repete todo santo dia. O escritor Oscar Wilde dizia que apenas os tolos não julgam pelas aparências e, se o desejo segue a estrutura triangular, tal como mostra Scorsese, o fingimento é uma constante em todas as épocas. Aí, a inocência deixa de ser inocência e vira a crença dessa “coisa” que chega até nós. Sonhar “cavalgando” tempos depois, não vale. Por isso não deixe o cavalo passar selado…
Resumindo: Newland Archer (Daniel Day-Lewis) é um jovem advogado que está comprometido com May Welland (Wynona Ryder). Ambos da elite aristocrática norte-americana. O interesse de Newland por May desaba, com a volta da Condessa Olenska (Michelle Pfeiffer), prima de sua noiva e uma paixão de infância, Olenska abandonara o marido e começa o andamento do divórcio. É uma mulher muito bonita, livre, que faz o que quer da vida. Será que é isso que os homens gostam?
Após a cena de abertura do filme, com muitas rosas, somos levados ao palco de um teatro onde dois cantores encenam a ópera Fausto, de Gounod. A escolha da ópera é apropriada: a Condessa Olenska, personagem que terá o foco da nossa atenção durante essa primeira parte do filme, (até o fim), é vista por vários críticos como o próprio Mefistófeles, uma entidade diabólica nascida durante a Era Medieval, e apresentada como uma das manifestações do mal. Eu até aceito, mas ruim é saber que a personagem do advogado Newland Archer nunca teve um dia feliz em sua vida. O desejo mata.
A amiga que mandou o vídeo/aula do professor Marcelo Backes, reafirma as palavras do mestre: “A Época da Inocência é o filme mais violento de Scorsese”. Agora me digam: o que fazer com a rigorosa cegueira?
Kapetadas
Te amo – Infelizmente não posso amar de volta uma pessoa que começa uma frase com um pronome oblíquo.
Som na caixa: “Veio e não veio quem eu desejaria, se dependesse de mim”, Caetano Veloso.
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TURISMO - 19/12/2024