João Pessoa, 01 de fevereiro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A sociedade demanda profissionais competentes. Para além dos conhecimentos e habilidades, esses profissionais devem articular e colocar em ação valores e atitudes que proporcionem um desempenho eficaz no mundo do trabalho, conforme entendimento do Conselho Nacional de Educação (Resolução CEB/CNE nº 4/1999).
Para o educador alemão John Erpenbeck (foto), o processo de educação em torno de competências envolve a interiorização de valores, normas e regras. Competências não são transmitidas da mesma forma que o conhecimento. Erpenbeck defende que, para assimilar competências – notadamente às socio-comunicativas e pessoais – faz-se necessário expor os estudantes a situações emocionais em que sejam abordados valores políticos, de visão de mundo, éticos e morais.
A ideia de que o estudo deve envolver atividades de dramatização, em que o aluno é instado a assumir papéis predefinidos é, ademais, fartamente relatada na literatura especializada e em documentos de organismos internacionais. As simulações educacionais têm o condão de reforçar ou dissipar valores do educando, por meio da rotulação emocional.
As Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN´s, os Planos de Desenvolvimento Institucional – PDI´s, e os Projetos Pedagógicos dos Cursos – PPC´s, secundados pelas ementas das unidades curriculares e pelos planos de ensino, exprimem as competências, habilidades e os conteúdos de cada curso. Como visto, as competências, principalmente as de cunho não cognitivo, implicam a assimilação de valores.
Embora as DCN´s sejam pródigas na enumeração de competências, elas tendem a ser lacônicas quando se trata dos valores que lhes são subjacentes. As DCN´s são normas emanadas do Conselho Nacional de Educação que vinculam as Instituições de Ensino Superior de todo o país. Por seu caráter nacional e por emanarem de ente estatal, entendemos que a previsão exaustiva de valores afetaria o princípio da liberdade de ensino.
Do ponto de vista da relação aluno-universidade, os PPC´s também não costumam se aprofundar no que tange aos valores umbilicados às competências. Dessa forma, a atividade de definição dos valores costuma ficar a cargo do docente, que o fará de forma mais ou menos consciente. Nesse sentido, para cultivar a competência socio-comunicativa da tolerância, o professor pode trabalhar, entre outros, os valores da igualdade, da paz, da justiça etc. De permeio, cada um desses valores pode ser abordado a partir de uma ou várias visões de mundo, muitas vezes, conflitantes. Em que pese as múltiplas possibilidades, a escolha dos valores e a forma de abordá-los interfere no resultado final.
O estado atual de polarização de concepções políticas e ideológicas demanda, a nosso ver, uma especial atenção aos valores e às atividades simuladas no ambiente universitário (presencial e virtual). Os gestores universitários – mormente coordenadores de cursos – em conjunto com os respectivos professores, poderiam fazer um levantamento dos valores atualmente ventilados pelos professores em suas respectivas disciplinas. Uma vez realizado esse levantamento de valores, é primordial a sua divulgação perante o corpo discente.
Em jeito de conclusão, o processo da educação por competências implica uma transformação pessoal, uma mudança interior, com introjeção de novos valores e regras. É imperioso, portanto, ser transparente para com o corpo discente acerca dos valores subjacentes às competências que se busca fomentar, bem como acerca das praticas voltadas ao desenvolvimento dessas competências.
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