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Antônio Colaço Martins Filho é chanceler do Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO (CE). Diretor Executivo de Ensino do Centro Universitário UNIESP (PB). Doutor em Ciências Jurídicas Gerais pela Universidade do Minho – UMINHO (Portugal), Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal), Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Autor das obras: “Da Comissão Nacional da Verdade: incidências epistemiológicas”; “Direitos Sociais: uma década de justiciabilidade no STF”. E-mail: [email protected]

Transformação digital no Ensino Superior

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publicado em 15/02/2021 às 08h08
atualizado em 15/02/2021 às 05h09

É notório que o distanciamento social provocou a digitalização de muitos processos. Em todos os ramos da economia e no setor público (notadamente, no Poder Judiciário) atividades mais variadas passaram a ser executadas exclusivamente através do meio digital.

Na educação superior, mesmo as faculdades menos afeitas a tais tecnologias tiveram que digitalizar rapidamente suas atividades-meio e fim. Não é exagero concluir que as aulas remotas – efeito colateral do distanciamento compulsório – aceleraram a aceitação do ensino a distância. Na mesma toada, a adoção das tecnologias nas atividades-meio avançou rapidamente, vis a vis o aumento da quantidade de serviços digitais ofertados.

Jeanne Ross (foto), pesquisadora do MIT Sloan School, diferencia empresas que digitalizam suas operações (digitalização) daquelas que nascem ou se tornam digitais. As primeiras conquistam a excelência operacional. Em outras palavras, entregam aquilo que prometem, mediante o uso de tecnologias como redes sociais, tecnologias móveis, análise de dados, armazenamento em nuvem, internet das coisas, entre outras.

A título exemplificativo, uma faculdade que digitaliza sua operação pode ser altamente eficaz, mediante o emprego das tecnologias acima referidas nos processos de seleção, de matrícula, de rematrícula, bem como na emissão de declarações, de históricos, de diplomas, de boletos etc.

As organizações que se tornam digitais, por sua vez, fazem uso das mesmas tecnologias para revisar, constantemente, e aprimorar a sua proposta de valor.

Nesse passo, uma instituição de ensino superior pode ser bem sucedida na digitalização de procedimentos, mas, ao mesmo tempo, ter uma proposta de valor desalinhada com as novas demandas e expectativas dos nativos digitais. O inverso (ser digital, sem aplicar a digitalização nos seus processos), contudo, não é viável, na medida em que ter uma coluna vertebral operacional (operational backbone, na terminologia de Jeanne Ross) é fundamental para concretizar uma proposta de valor que tem como pressuposto o uso das mencionadas tecnologias.

Em que pese o avanço na digitalização, é forçoso reconhecer que a maioria das faculdades da livre iniciativa não pertencentes a grandes grupos consolidadores têm um grau de digitalização ainda incipiente. Nesse sentido, novas faculdades, com propostas de valor arrimadas nas novas tecnologias, podem ter vantagem em relação às instituições que ainda engatinham na digitalização de suas operações e nem sequer têm a transformação digital em suas agendas.

Em suma, os recentes e compulsórios avanços na digitalização dos serviços das faculdades não pertencentes a grandes grupos consolidadores não nos parecem suficientes para favorecer a necessária transformação digital. A referida digitalização precisa ser secundada pela reformulação da proposta de valor dessas instituições, a partir das novas tecnologias e das demandas dos nativos digitais. Talvez assim elas tenham possibilidade de serem protagonistas de um setor cada vez mais exposto aos perigos da concorrência assimétrica e da concentração de mercado.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB