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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Outros carnavais

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publicado em 17/02/2021 ás 08h05
atualizado em 17/02/2021 ás 08h06

I

Quando o primeiro bloco

passar na rua,

marcarei o passo

num verso comovido.

Rasgarei a máscara

de antigos carnavais

e me lançarei no perfume

das marchas agitadas

do coração

em lugar de desfilar

pela avenida.

Brincarei nos três dias

meu sonho do ano inteiro

sem chorar na quarta-feira.

II

A folia que me assalta,

sem confete e serpentina,

dispensa o Zé Pereira

e a fantasia.

Dispensa o Pierrot e a Colombina,

o frevo e a festa,

o samba e o susto.

Dispensa tudo que é três dias.

Na solidão tecida,

a folia que me assalta

tem gosto de quarta-feira

É carnaval feito de cinzas.

III

Não fui rei

de outros carnavais,

mas guardei a coroa

de anônimo folião:

saudade alguma do que passou.

Fiz do batuque cardíaco

o trio-elétrico que me levou

à vida

em lugar de me perder na multidão.

Finalmente se estragou a fantasia.

e do samba que não fez escola

eis o enredo que restou.

(De A geometria da paixão, 1986)

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