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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

A história de um filho da puta

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publicado em 20/02/2021 ás 06h31
atualizado em 19/02/2021 ás 21h33

Talvez vocês lembrem de um acidente aéreo ocorrido na península de Maraú (litoral da Bahia) em novembro de 2019. O pequeno avião executivo que conduzia um reduzido grupo de milionários que iria passar os feriados na paradisíaca praia tocou o solo antes do início da pista, quebrou o trem de pouso e arrastou-se até parar. Os passageiros estavam ilesos até que começou um incêndio a bordo. A maioria conseguiu sair do avião, porém com queimaduras terríveis, mas já naquele primeiro momento uma passageira morreu carbonizada. Seguiu-se um verdadeiro filme de terror por absoluta falta de condições de atendimento às vítimas na região. No final restaram 5 mortos e os que sobreviveram tem sequelas e traumas inimagináveis. Só um dos sobreviventes, Eduardo, que perdeu a esposa e o filho naquele acidente, já passou por mais de 40 cirurgias.

Esse é o primeiro ato da tragédia.

Vamos agora para o “dia seguinte”.

Segundo a revista Piauí, o avião pertencia a José João Abdalla Filho (foto). Juca Abdalla, como é conhecido, nunca casou, não tem filhos, não vai a festas e é o mais desconhecido bilionário do Brasil. Isso mesmo; está no topo da relação dos bilionários brasileiros. Segundo a revista Forbes sua fortuna ultrapassa os 12 bilhões. É dono do banco Clássico, que não possui agencias nem outros clientes, senão ele próprio.

Algumas das vítimas promoveram ações judiciais contra Juca pretendendo indenizações. Afinal, ele era dono da aeronave e havia contratado os pilotos.

Pois bem, a defesa do bilionário alega que o avião não foi alugado. Estava em exposição para venda e que aquele voo foi de demonstração, uma espécie de test-drive.

Todo mundo tem direito à mais ampla defesa. Em acidentes existem vários fatores a serem sopesados, principalmente quando se tem uma dúvida razoável quanto à culpabilidade de alguém. Mesmo uma tese maluca pode adquirir contornos verossímeis se bem defendida e cabe sempre à justiça decidir pela procedência ou não de cada argumento. É do jogo.

O que eu não consigo entender é como um cara que não tem mulher nem filhos, não tem pra quem deixar os bilhões que amealhou, recusa-se a pagar umas indenizações que em absolutamente nada vão afetar seus bilhões.
É ou não é um filho da puta?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB