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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

O poder do pensamento econômico

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publicado em 21/02/2021 às 08h23
atualizado em 22/02/2021 às 13h41

Há mais de 50 anos, é concedido pelo Banco da Suécia (Sveriges Riksbank) em parceria com a Academia Real das Ciências da Suécia, o Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel. Na capital sueca, em 10 de dezembro de 1969, dois professores foram os primeiros laureados com o renomado Prêmio Nobel de Economia, o economista holandês Jan Tinbergen (1903-1994) e o economista norueguês Ragnar Frisch (1895-1973), “por terem desenvolvido e aplicado modelos dinâmicos para a análise de processos econômicos”, de acordo com o Professor Luiz Alberto Machado (2019, p. 350) na sua relevante obra intitulada “Viagem pela Economia”.

Em Estocolmo, no ano de 2020, numa inédita cerimônia virtual, os vencedores do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas foram os economistas americanos Paul Milgrom e Robert Wilson, que dividiram um prêmio de dez milhões de coroas suecas (o equivalente a US$ 1,1 milhão). Os professores da Universidade de Stanford receberam suas medalhas de ouro e seus diplomas “por melhorias da teoria dos leilões e de invenções nos novos formatos de leilão” nas áreas de telecomunicações, petróleo e energia elétrica.

O presente artigo destaca o poder do pensamento econômico de dez economistas laureados com o Prêmio Nobel de Economia, desde 1969 até 2020. Entre os vencedores do Nobel já falecidos, na minha opinião, destacam-se, Paul Samuelson (1915-2009), Friedrich August von Hayek (1889-1992), Milton Friedman (1912-2006), James Buchanan (1919-2013) e Gary Becker (1930-2004). Já entre os ganhadores do Nobel ainda em ação, em plena pandemia da COVID-19, destacam-se, Robert Solow, Amartya Sen, Joseph Stiglitz, Paul Krugman e Richard Thaler.

O economista americano Richard Thaler (foto) foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia de 2017, “por suas contribuições para a economia comportamental” (MACHADO, 2019, p. 353), ou seja, por unir a Economia (há mais de dois séculos é uma ciência social e não uma ciência exata) com a Psicologia. O Prof. Richard Thaler, da Universidade de Chicago, estudou o comportamento humano, que não é sempre racional, além de muitos fatores que influenciam nas tomadas de decisões dos consumidores e dos investidores. É um equívoco não supor que tomamos decisões econômicas baseadas em questões subjetivas e culturais como consumidores, previsivelmente irracional, reduzindo desperdícios e otimizando rotinas.

Um dos mais influentes economistas na atualidade, o economista americano Paul Krugman recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 2008, “por sua análise dos padrões de comércio e localização da atividade econômica” (MACHADO, 2019, p. 353). O neokeynesiano Paul Krugman, professor da Universidade de Princeton, é um dos renomados colunistas do The New York Times, além de estudioso da globalização da economia, onde integrou o comércio internacional com a geografia econômica e apontou que muitos bens podem ser produzidos em larga escala a um custo menor, uma economia de escala, tão necessária para o lucro das empresas no comércio internacional de bens semelhantes. Ele é autor de vários livros como “Um Basta à Depressão Econômica!”, de 2012.

O economista norte-americano Joseph Stiglitz, professor da Universidade de Columbia, foi o vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, juntamente com os economistas estadunidenses George Akerlof e Michael Spence, “por suas análises de mercado com informação assimétrica” (MACHADO, 2019, p. 352). O professor Joseph Stiglitz estudou com afinco o livre mercado e suas falhas, e focou no que seria feito por indivíduos mal informados para melhorar suas posições no mercado. Stiglitz é um dos grandes estudiosos dos graves problemas da humanidade como o desemprego, a pobreza e a desigualdade.

Amartya Sen foi o primeiro economista indiano a ganhar um Prêmio Nobel de Economia no ano de 1998, “por suas contribuições para a economia do bem-estar, em especial nos países em desenvolvimento” (MACHADO, 2019, p. 352). O Prof. Amartya Sen, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, apontou a importância da economia do bem-estar e investigou as principais causas da fome e propôs soluções para prevenir a escassez de alimentos no seu milenar e populoso país, a Índia. Amartya Sen é um dos criadores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 1989 e sua obra-prima é “Desenvolvimento como Liberdade”, de 1999.

O economista americano Robert Solow, hoje, professor aposentado do Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi o ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1987, “por suas contribuições para a teoria do crescimento econômico” (MACHADO, 2019, p. 351). Solow desenvolveu um modelo de crescimento econômico que ilustra como três fatores de produção (capital, trabalho e tecnologia) podem contribuir para aumentar a produção agregada da economia, além de mostrar que as mudanças tecnológicas possuem um potencial maior de impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do PIB per capita no longo prazo.

Entre os economistas americanos agraciados com o Prêmio Nobel de Economia, Gary Becker, da Universidade de Chicago, foi concedido em 1992, “por ter ampliado o domínio da análise microeconômica para uma ampla gama de comportamentos e interações humanas, incluindo comportamento não mercantil” (MACHADO, 2019, p. 351). Becker inovou ao aplicar modelos econômicos para explicar fatos cotidianos na economia de mercado, nas escolhas econômicas racionais, baseadas no interesse próprio, que governam o comportamento humano e suas tomadas de decisão. Becker escreveu a obra seminal “Teoria do Capital Humano” em 1964, onde pensou no capital humano como investimento na economia, sendo este fundamental para encontrar as respostas para os desafios das empresas.

O economista americano James Buchanan recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 1986, “pelo desenvolvimento das bases contratuais e constitucionais da teoria da tomada de decisões econômicas e políticas” (MACHADO, 2019, p. 351). O Prof. James Buchanan, da Universidade de Virgínia, foi um dos criadores da Teoria da Escolha Pública, que apontou uma situação como principal ponto de partida para um novo pensamento econômico, isto é, de que as falhas do Estado podem ser piores do que as falhas do mercado. O neocontratualista James Buchanan escreveu 35 livros de economia, destaca-se a obra-prima intitulada “Os limites da liberdade: entre a anarquia e o Leviatã”, de 1975, e muitos artigos em defesa do Estado democrático moderno.

Vale a pena ler os livros “Capitalismo e Liberdade”, de 1962, e “Não existe almoço grátis”, de 1975, do economista americano Milton Friedman, o Prêmio Nobel de Economia de 1976, “por suas conquistas nas áreas de análise de consumo, história e teoria monetária e por sua demonstração da complexidade da política de estabilização” (MACHADO, 2019, p. 350). O Prof. Milton Friedman, da Universidade de Chicago, foi o principal teórico do monetarismo e um dos economistas mais influentes da sua época ao escrever artigos defendendo o livre mercado, a iniciativa privada, a taxa de câmbio flexível e a liberdade econômica.

O penúltimo Nobel de Economia a ser mencionado é o economista austríaco Friedrich von Hayek, ganhador de 1974, em companhia do economista sueco Gunnar Myrdal, “pela análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais” (MACHADO, 2019, p. 350). O Prof. Hayek, da London School of Economics, leu na íntegra a obra-prima do economista escocês Adam Smith, o pai do pensamento econômico moderno e o fundador do liberalismo econômico, tornando-se um dos principais defensores da não intervenção do Estado na economia. Para Hayek, a intervenção estatal na economia de mercado é produtora de injustiças. Hayek defendeu um “Estado Mínimo”, um Estado com um mínimo de atividades econômicas, mas com algumas políticas públicas redistributivas, uma política de renda mínima para os mais pobres. Foi um economista da 4ª geração da Escola Austríaca, um dos maiores críticos ao socialismo totalitário e autor da obra seminal “O Caminho da Servidão”, de 1944.

Por fim, temos agora Paul Samuelson, o primeiro economista norte-americano laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1970, “pelo trabalho científico por meio do qual ele desenvolveu a teoria econômica estática e dinâmica e ativamente contribui para elevar o nível de análise na ciência econômica” (MACHADO, 2019, p. 350). O Prof. Paul Samuelson, do MIT, com sua gravata borboleta, sempre defendeu a importância da matemática para a análise econômica, de compreender o ciclo econômico e a sua obra-prima “Economics”, de 1948, é um dos livros de Economia mais lido e traduzido no mundo. Em suas entrevistas, palestras e artigos, durante a Guerra Fria, defendeu a obra e o pensamento econômico de Keynes e projetou os rumos dos Estados Unidos da América (EUA), líder do bloco dos países capitalistas, e da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ex-líder do bloco dos países socialistas.

É momento de encerrar a estúpida guerra comercial entre os EUA e a China, as duas maiores economias do mundo, que começou em março de 2018. É hora de apontar o caminho a trilhar para resolver o desemprego cíclico, pois a taxa de desemprego diminui em períodos de expansão econômica e aumenta em momentos de retração econômica. Enfim, em dezembro de 2021, um novo Nobel de Economia, um novo pensamento econômico.

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