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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Antes da pandemia

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publicado em 09/03/2021 às 07h14
atualizado em 08/03/2021 às 18h46

Permitam-me a ênfase. Permitam que eu escreva como era antes. Como era antes?

Às vezes não sabia o que eu ia escrever. Outra vezes, tinha só o título. Permitam-me a hipérbole. Ficava olhando as pessoas nas ruas para buscar uma novidade e nada. Tudo parecia igual, todo mundo sem máscaras.

De tanto passar pelo Mercado Central, muitas pessoas já me conheciam. Acho que eles me esqueceram. Não aquelas que me chamavam de “patrão”, “irmão”, “amor”, “doutor”, “nobre” e o que mais tiver nesse viés de intimidade boba. Não sou nada, soul o K.

“Me dá uma cerveja para molhar as palavras”, disse um homem numa mesa vizinha num restaurante de comida no peso, em 9 de março de 2020. Não tomo cervejas há mais de 20 anos. Nem me lembro do sabor.

Parênteses (que exagero!). Não é não.

Disposto a fazer dançar um tema novo (a)normal, com os seus ritmos quentes que oscilam entre o só danço samba ou no tempo que dançamos sem som, dois pra lá, 2 pra cá. Alguém sabe dizer se o caldeirão da Calvário ainda ferve? Pena, não é a palavra, mas muita gente continua chorando de barriga vazia.

O grande público a cantar o grito dos desesperados, do poema de Castro Alves (foto), que clama pelo Deus dos desgraçados. O público voltou com força. O público que eu digo, não é nós.
Anunciam que estamos na curva, mas me parece sinuosa. Com assim? Março de 2021? Os parasitas e passistas sem máscaras não são uma exceção. São genocidas. Daqui a pouco ninguém aguenta mais essa palavra ge-no-ci-da.

Se ainda fosse jovem pediria aquela moça em casamento, a Ana de Amsterdã. E todo o resto são cantigas. Amanhã, será tarde demais, viu? Chega de gente inútil!

Há em mim um homem velho, porém honesto. Já vejo o desembocar nos vales e lágrimas, pedras, perdas e achados.

Na multidão eu era sou silencioso. Adorava quando a tarde morria e eu voltava para casa, onde ainda me cerco de poucos prazeres: rodelas de inhame com manteiga, um suco de caju e uma colher de chá de doce de leite diet, antes de dormir.

Não sou nenhum santo. Não perco a fé. Cumprimento pobres, mambembes, ricos, falsos comandantes, mendigos, pretos, gays, idosos e mulheres de gostos raros.

Já usei roupas emprestadas. Sapatos que não cabiam nos meus pés. Às vezes, não dá para explicar. Já fui agredido e não revidei, pedi o penico e joguei no inferno.

Permitam-me a ênfase. Ou a sintaxe? E mesmo se me der na veneta, eu não vou para rua. Ótica futura.

Kapetadas
1 – Às vezes acho que vou ficar louco, mas não tenho vozes na minha cabeça.
2 – Tem que voltar o “Cala boca, imbecil”.
3 – Som na caixa: “Sejamos imperialistas, cadê? Sejamos imperialistas cadê?”, Caetano Veloso

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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