João Pessoa, 18 de março de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Quando comecei a ler com regularidade, ainda na adolescência, fiz algumas leituras desordenadas, para as quais ainda não estava preparado, a exemplo de Thomas Mann e Hermann Hesse, mesmo assim segui em frente. Achava escritores pessoas encantadas, livres de defeitos, imunes a picuinhas. Via o chamado “meio literário”, como verdadeiro paraíso da cultura e das amizades recíprocas e ajuda mútua.
Estava enganado. Foram os próprios escritores que emitiram suas opiniões sobre o tal “meio literário”. Alguns famosos, com textos traduzidos para vários idiomas, outros nem tanto. O jornal literário “Rascunho” formulou a seguinte indagação: “O que mais te incomoda no meio literário?” Eis as respostas:
Eric Nepomuceno: “A soberba, a vaidade. Convivo, no Brasil, com pouquíssimos escritores, todos eles amigos há décadas. Convivo mais com compositores, cineastas. Fora do Brasil, convivo mais com escritores. Mas sempre fora das igrejinhas: prefiro as máfias”.
Nélida Piñon: “Recrimino no meio literário a falta de generosidade com parceiros, não lhes reconhecendo seus méritos literários. Detecto às vezes traços de inveja que dificultam sobremaneira a avaliação estética de determinada época, e priva quem padece de seus efeitos de ocupar um lugar justo na história brasileira. Também observo o provincianismo reinante que reparte injustiças ao privilegiar quem pertence a sua esfera de interesses. Igualmente lamento a indiferença com que os autores mais velhos, ainda vivos, são tratados pelos mais jovens, como que os soterrassem do lado de fora do panteão pátrio”.
Raphael Montes: “O esnobismo, as picuinhas e a hierarquia entre a dita ‘alta literatura’ e a literatura popular, de gênero”. Já Tabajara Ruas foi enfático: “Não frequento”.
Cida Pedrosa: O “ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire”.
Edney Silvestre: “A falta de reconhecimento e apoio a outros escritores brasileiros, à maneira que autores e músicos baianos fazem entre si, tal como os mineiros e gaúchos, dando sempre prioridade, inclusive em seus festivais, a autores de seus estados. Pergunte a um mineiro, um gaúcho ou um baiano qual o melhor escritor do país e verá: o citado será um conterrâneo”.
Pois é, a lista é longa e continua no próximo texto. Até lá.
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TURISMO - 19/12/2024