João Pessoa, 20 de abril de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eu estou cego de tanto ver essas mulheres refazendo seus depoimentos, no caso do menino Henry Borel. O menino morre todo dia.
Da entrevista de Débora Mello Saraiva, ex-namorada de Dotô Jairinho, concedida para Roberto Cabrini, vazou pela tela, descrições de crueldade. É um desmascaro!
Afinal porque essas mulheres viveram com esse homem? Seriam mulheres de Atenas?
O que os cegos sonham nesse tempo, que lembro “da flecha tardia”, expressão de um poema de Paul Celan, (judeu alemão), talvez o único poeta que conseguiu, mais do que falar sobre a guerra, dizê-la. Aliás, ele registrou em sua obra a marca do terror nazista. Estamos num filme?
Sempre que revejo “a flecha tardia” penso que ainda vão usá-la: no alvo das trevas desse tempo, a fecha que foi atirada às cegas como quem joga uma garrafa no mar.
O medo instalado nessas mulheres que refazem os depoimentos, carrega séculos em si. O olhar humano é extraordinário, ele denuncia o medo.
O que sonham os cegos?
Os cegos sonham com afagos e sentimentalidades.
O que sonham os cegos?
Que a grande sacada de uma pessoa, da sua alma, ser igual o segredo único de uma obra de arte, que não existe. É só contemplação.
Ódio e amor se misturam permanentemente, em processos de sobredeterminação contínua. Pra que rimar amor e dor?
O que sonham os cegos?
A essa condição de sofrer acuado feito bicho, não revela ansiedade ou o que quer que seja. Isso está relacionado a algum traço de tortura psicológica que nunca poderá ser isolada.
Da mesma forma, a tortura psicológica também se deixa moldar pelo medo, que passa a transformá-lo.
O que sonham os cegos?
Que o misterioso e único segredo do amarelo de Van Gogh é ele ser amarelo e pronto Além disso, mais nada.
Somos a espera, assim como o botão da camisa esperando pela casa, como a escova de dentes nos espera ou a composição química do remédio. Banalidades nos acompanham.
O que sonham os cegos?
Que nós nos transformamos na espera do próximo escândalo, da próxima foto, a próxima morte, o próximo feminicidio, a próxima cepa e estamos todos cegos sonhando com coisas que não tem cor, nem nomes.
Eu perdi a conta das mulheres que reafirmaram que o inepto dotô Jairinho maltratava seus filhos. É um desmascaro! Seriam mulheres de Atenas?
Preciso aprender a tatear. A perplexidade já não tem razão ou tem toda a razão! Afinal, o que sonham os cegos?
Kapetadas
1 – Fecha a janela que está entrando chuva nos meus olhos
2 – Vem aí, a Igreja “Congretenebrosa” do Jairinho de Judiar.
3 – Som na caixa: “Quando fustigadas não choram, Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas”, Chico Buarque
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OPINIÃO - 22/11/2024