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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O que sonham os cegos?

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publicado em 20/04/2021 ás 07h26
atualizado em 20/04/2021 ás 13h07

Eu estou cego de tanto ver essas mulheres refazendo seus depoimentos, no caso do menino Henry Borel. O menino morre todo dia.

Da entrevista de Débora Mello Saraiva, ex-namorada de Dotô Jairinho, concedida para Roberto Cabrini, vazou pela tela, descrições de crueldade. É um desmascaro!

Afinal porque essas mulheres viveram com esse homem? Seriam mulheres de Atenas?

O que os cegos sonham nesse tempo, que lembro “da flecha tardia”, expressão de um poema de Paul Celan, (judeu alemão), talvez o único poeta que conseguiu, mais do que falar sobre a guerra, dizê-la. Aliás, ele registrou em sua obra a marca do terror nazista. Estamos num filme?

Sempre que revejo “a flecha tardia” penso que ainda vão usá-la: no alvo das trevas desse tempo, a fecha que foi atirada às cegas como quem joga uma garrafa no mar.

O medo instalado nessas mulheres que refazem os depoimentos, carrega séculos em si. O olhar humano é extraordinário, ele denuncia o medo.

O que sonham os cegos?

Os cegos sonham com afagos e sentimentalidades.

O que sonham os cegos?

Que a grande sacada de uma pessoa, da sua alma, ser igual o segredo único de uma obra de arte, que não existe. É só contemplação.

Ódio e amor se misturam permanentemente, em processos de sobredeterminação contínua. Pra que rimar amor e dor?

O que sonham os cegos?

A essa condição de sofrer acuado feito bicho, não revela ansiedade ou o que quer que seja. Isso está relacionado a algum traço de tortura psicológica que nunca poderá ser isolada.

Da mesma forma, a tortura psicológica também se deixa moldar pelo medo, que passa a transformá-lo.

O que sonham os cegos?

Que o misterioso e único segredo do amarelo de Van Gogh é ele ser amarelo e pronto Além disso, mais nada.

Somos a espera, assim como o botão da camisa esperando pela casa, como a escova de dentes nos espera ou a composição química do remédio. Banalidades nos acompanham.

O que sonham os cegos?

Que nós nos transformamos na espera do próximo escândalo, da próxima foto, a próxima morte, o próximo feminicidio, a próxima cepa e estamos todos cegos sonhando com coisas que não tem cor, nem nomes.

Eu perdi a conta das mulheres que reafirmaram que o inepto dotô Jairinho maltratava seus filhos. É um desmascaro! Seriam mulheres de Atenas?

Preciso aprender a tatear. A perplexidade já não tem razão ou tem toda a razão! Afinal, o que sonham os cegos?

Kapetadas

1 – Fecha a janela que está entrando chuva nos meus olhos
2 – Vem aí, a Igreja “Congretenebrosa” do Jairinho de Judiar.
3 – Som na caixa: “Quando fustigadas não choram, Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas”, Chico Buarque

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB