João Pessoa, 20 de outubro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um oficial da Marinha brasileira está entre os quase trezentos militares argentinos, uruguaios e chilenos que há quase 20 dias não podem deixar o porto de Tema, em Gana, na África – porque a fragata argentina no qual eles viajavam foi apreendida pela justiça local.
O segundo-tenente Lailton Souza Jorge, de 26 anos, embarcou em maio no navio-escola Libertad – um veleiro argentino de grandes proporções, usado para instrução de futuros oficiais e marinheiros. Ele é o único brasileiro integrante da tripulação.
O vice-almirante Paulo Maurício Farias Alves, diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha brasileira, disse que um brasileiro está no navio, mas não confirmou sua identidade.
Contudo, a participação dele na 43º Viagem de Instrução do Navio-Escola Libertad consta em portaria publicada em maio deste ano do Diário Oficial a União e foi confirmada pela BBC Brasil com parentes do militar.
Jorge nasceu na Bahia, mas mora atualmente com a mulher no Estado do Rio de Janeiro. Ele está bem, segundo parentes, e se comunica diariamente com a família. A tripulação do navio tem liberdade para entrar e sair da embarcação e tem acesso a "modernos recursos de comunicação e informação".
Em declarações ao jornal argentino "Gaceta marinera", publicadas no dia três de agosto, ele contou que nasceu em Salvador, na Bahia, de onde saiu pequeno. "Mas graças à Fragata Libertad (que ali fez escala) voltei a percorrer as ruas da minha infância", disse.
Ele afirmou que a viagem é uma "oportunidade para conhecer como funciona outra Marinha" e declarou que se sentia "muito bem a bordo" da Fragata.
As viagens de navios-escolas são comuns em grande parte das Marinhas do mundo. No caso da Libertad, os militares passam por um programa de aprendizado de arte naval focado especialmente na navegação, segundo Alves. Porém, atividades culturais e de recreação também estão no cronograma de atividades. O objetivo é o ensino da tradição e dos costumes navais e a adaptação à vida no mar.
Jorge está abordo do navio argentino devido à uma iniciativa diplomática da Marinha do Brasil que visa aproximar a instituição de Marinhas de países amigos.
Calote
O navio-escola está fundeado em Tema desde o dia 1º de outubro, há quase vinte dias, como informou a imprensa local. Um juiz de Gana acatou pedido de um fundo de investimentos, o NML, feito por meio da Justiça americana, que reclama que a Argentina lhe pague uma dívida referente aos títulos públicos do país.
Para liberar a embarcação, o governo argentino deveria pagar uma fiança de US$ 20 milhões (R$ 40 milhões). Uma comitiva de autoridades locais viajou para Acra, capital de Gana, mas até esta sexta-feira não havia notícias de um entendimento. Em um comunicado divulgado na noite desta sexta-feira, o Ministério argentino das Relações Exteriores disse que a ‘detenção da Fragata Libertad é ilegal’ já que ela possui, afirma-se, "imunidade" internacional, reconhecida por Gana em acordos internacionais.
Como a Argentina não possui representação diplomática em Gana está contando com apoio da diplomacia brasileira, de acordo com fontes de Brasília.
Segundo a imprensa local, representantes do NML teriam oferecido pagar a passagem de volta para os militares embarcados na Fragata Libertad. Mas o governo argentino não teria respondido à proposta.
Na crise econômica de 2001 e de 2002, a Argentina declarou calote da sua dívida e a renegociou com desconto em 2005. No entanto, grupos como este que não aceitaram a oferta disputam com o país nos tribunais internacionais. Na imprensa local afirmou a rota da fragata Libertad foi modificada, na tentativa de evitar sua apreensão.
Portos da Europa, por exemplo, passaram a ser evitados. Para passar o tempo em Tema, os militares organizam passeios nos arredores do porto e atividades como futebol, segundo agências internacionais de noticias. A viagem de instrução estava marcada para acabar em 8 de dezembro.
Por e-mail, a Marinha brasileira explicou que o "oficial brasileiro embarcado na Fragata Libertad", da Armada Argentina, "não está autorizado pela Marinha do Brasil a conceder entrevistas, pois está subordinado ao Comandante do Navio". A Marinha informou ainda que trata-se de uma "viagem de instrução" com oficiais estrangeiros convidados para participar da missão.
A fragata Libertad realiza este tipo de viagem, complementar à instrução da Escola Naval e destinada a complementar a formação cultural de futuros oficias, desde 1963, informou a Marinha brasileira.
G1 com BBC Brasil
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