João Pessoa, 18 de outubro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
As autoridades norueguesas anunciaram nesta quinta-feira (18) que o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc constituíram uma mesa de diálogo para tentar atingir a paz e concordaram em "agir em conjunto" para chegar a um acordo "abrangente" para encerrar quase cinco décadas de conflito no país.
O anúncio foi feito em Hurdal, próximo à capital norueguesa, Oslo, na presença de negociadores das duas partes.
Sem cessar-fogo
O negociador-chefe do governo colombiano, o ex-vice-presidente Humberto de la Calle, reafirmou que não vai haver cessar-fogo durante as negociações.
"Não vai haver o fim das operações militares, vamos continuar levando adiante nossa obrigação militar", disse.
Ele convidou a guerrilha a realizar um "esforço mútuo" para acabar com o conflito e elogiou o grupoa por ter cumprido "rigorosamente" sua parte no acordo até agora, dizendo esperar alcançar acordos "eficazes", com "respeito e discrição".
Sem reformas
O chefe dos negociadores das Farc, Ivan Márquez, disse que uma reforma econômica e social mais abrangente na Colômbia é necessária para que os rebeldes concordem com um acordo de paz. “A paz não significa que as armas serão silenciadas”, disse Márquez.
Ele também afirmou que, sem justiça social, a paz seria "semear quimeras" para o futuro da Colômbia.
"Uma paz que não aborde a solução dos problemas políticos e sociais (…) equivaleria a semar quimeras no solo da Colômbia", declarou Márquez depois do anúncio formal do início da quarta tentativa em 30 anos de acabar o conflito que já deixou milhares de mortos.
O governo, no entanto, afirmou que as reformas não serão discutidas neste ponto das negociações.
O diálogo vai continuar com reuniões em Havana, capital de Cuba, em 15 de novembro, para tratar do tema do desenvolvimento agrário, segundo declaração conjunta das partes, lida por representantes de Cuba e Noruega, países mediadores. Dez dias antes, reuniões preparatórias vão começar na ilha.
Processo histórico
Uma histórica reunião a portas fechadas marcou, na véspera, o início do processo de paz.
O presidente colombiano Juan Manuel Santos espera que, após dez anos de ofensiva militar patrocinada pelos Estados Unidos, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia estejam suficientemente enfraquecidas a ponto de buscarem a paz com mais seriedade do que em três tentativas anteriores.
Santos, ex-ministro da Defesa, anunciou em setembro que os dois lados negociaram emCuba os termos para uma pauta preliminar, que previa o início das discussões em Oslo e sua posterior transferência para Havana.
Os cinco itens da pauta incluem assuntos delicados, como o narcotráfico, os direitos das vítimas do conflito, a propriedade fundiária, a participação política das Farc e o fim da guerra civil.
Apesar das negociações, militares e rebeldes mantêm seus ataques, e as Farc recentemente atingiram instalações de energia e mineração. Santos rejeitou uma oferta de cessar-fogo durante o processo de paz.
Além de ser uma vitória pessoal para o presidente, o eventual sucesso das negociações deve aumentar a presença da Colômbia nas carteiras dos investidores, após o país passar anos sendo considerado um dos mais perigosos lugares do mundo para visitar ou fazer negócios.
Em 2002, por exemplo, o investimento estrangeiro direto na Colômbia foi de apenas US$ 2 bilhões, enquanto neste ano deve alcançar os US$ 17 bilhões.
Mas a eventual paz com a guerrilha marxista das Farc não significaria de forma alguma o fim da violência na Colômbia, onde narcotraficantes e outros criminosos comuns – muitos deles oriundos da desmobilização de grupos paramilitares de direita – continuam operando.
Embora a maioria dos colombianos aprove as negociações, pesquisas mostram que mais de metade se oporia a um acordo que permita a participação de líderes das Farc na política, ou que anistie crimes cometidos durante o conflito.
Noruega e Cuba concordaram em atuar como países garantes das negociações, e representantes de Venezuela e Chile estarão presentes como observadores.
G1
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