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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Carta aos meus amigos

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publicado em 04/05/2021 ás 07h13

Faz tempo que não nos vemos. Tempos de tantas coisas. Tempos de tantas distâncias, que, muito embora nos leiamos com certa frequência, nem nos reconheceríamos por nossas palavras ou gestos.
Perceberam que o ritmo mudou? Andamos devagar. Aliás, nem temos para onde andar. Como no sonho de ontem à noite, a rua é um vazio sem fim. Uma solidão avassaladora. Outra hora, enche-se demais. Além da conta, do que pode ser.
Aquele nosso amigo de Paris, deu-me notícias. Continua, possivelmente até maio, toque de recolher às 19h. Os bares fechados. Os cafés fechados. Nem parece Paris. Num raio de 10 Km, você pode sair de casa. Mas, se ultrapassar e a fiscalização te pegar, pagará multas caras.
Imaginem. Multa por andar na rua! A vacinação por lá, atingiu os acima de 56 anos. Próximos a nós, que continuamos capengando, batendo fotos e soltando foguetões quando se consegue uma Butantan ou AstraZeneca.
Uns pensam que estão imunizados e livres. Outros, mais comedidos, mantêm alguns cuidados, até que se saiba o nível de imunização que adquiriu. Como vocês sabem, fui sempre mais comedido, um tanto obsessivo e, assim, mantenho todas as recomendações dos médicos, da OMS, dos cientistas.
Percebo que eles também não sabem muito. Estão tentando. Estão no caminho de novas grandes descobertas. É em respeito a eles que os sigo diariamente.
Orientações de prefeitos, governadores, presidente jogo-as no lixo. Os caras nunca leram um artigo científico na vida. Nunca foram a uma escola de saúde e deitam regras e recomendações. Faço questão de desqualifica-los, até pelo pouco respeito que têm à inteligência e capacidade de discernimento do próprio povo que os elegeu.
Vai ver que é por isso. Eles devem pensar: se me elegeram é porque não têm discernimento algum. Eureka! Diria o matemático Arquimedes de Siracusa.
Enquanto permanecia em casa, fiz um grande painel próximo à varanda do sol poente; aquela que Felipe aproveita para fazer tantas fotografias lindas, captando o sol que distante se põe, em céus avermelhados, rosáceos, afogueados. Aquele mesmo que íamos ver lá do Bar da Pólvora.
No painel, fui colando fotografias de todos nós. Escrevendo esse artigo, fui lá vê-las. Dei por falta de alguns de nós. Chorei não. Porque dizem que aqueles amigos, viraram estrelas. Estão no céu. Transformaram-se em outras energias que virão nos confortar. Por isso, é que acho tão urgente o poema de Drummond (foto), naquele Convite Triste. E eu vos convido: “ Vamos beber uísque, vamos beber cerveja preta e barata, beber, gritar e morrer, ou, quem sabe? beber apenas”. Vamos logo, que nosso sol vai se pôr e Felipe já o fotografou.

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