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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Drão de Milton

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publicado em 04/05/2021 ás 07h56

Uma longa voz contida na canção “Drão”, de Gilberto Gil. Quase um livro, mais que um livro, dividido em construções de muitos versos, funcionando como cartas de baralho que, ligando-se entre si, entre as mãos que jogam, se desdobram em formulações novas, vitórias, despedidas, mas quando guardadas na sua caixa, estão juntas e separadas.
Caetano Veloso gravou “Drão”, no disco “Prenda Minha”. É linda sua interpretação. O canto de Milton Nascimento alonga a canção “Drão”, na dança das personagens, que se interrogam sem cessar a dor da separação. Djavan também gravou “Drão” num arranjo belo e muita poesia nas cordas de nylon..muita dissonância.. Djavan é mestre

Milton foi convidado para cantar “Drão” na série “Amor e Sorte” e disse que ficou muito feliz de interpretar essa música de Gil, com o pianista Amaro Freitas.
Casamos ou nos juntamos e passamos a misturar nossas intimidades e feridas, de uma forma que termina nos incomodando. E pode não ser o motivo da canção “Drão”, que Gil fez para sua mulher Sandra, quando eles se separaram. Acho que os panos de bunda ficarão sempre juntos, um pijama aqui, a camisola do dia ali.

A canção “Drão”, na voz de Milton cresceu de uma forma estupenda, começa com um piano e depois vem um filme na nossa cabeça, sons imaginários e ele canta tristemente, solenemente, a semente de ilusão, que precisa morrer para germinar.
Milton desperta ao nos acordar da caminha dura, a dura caminhada pela estrada escura, que se desenroscam em novas questões essenciais, as primitivas, do sim e do não, afastadas da razão.

Como se o verdadeiro amor fosse um vão, mas quem poderá fazer aquele amor morrer? Tanta coisa tem nessa canção…

Milton canta “Drão” para nos fazer pensar nas crianças, nos pecados, numa confissão que não pede perdão, mais compaixão, para não pensarmos na morte do amor.
Descobri tarde, que a vida nunca acaba, ela é excessivamente traída como disse o poeta Manuel Bandeira, com os riscos de felicidade, mas a vida semeia na gente e só a gente poderá descobrir como não morrer.

Alguns perdem a viagem, outros se perdem nas escolhas.

A voz de Milton Nascimento enche minha vida de um infinito, e aí boto para fora minha alegria, aceno com a mão, sem o gozo de perguntar tudo, a voz que me deixa em silencio, até encontrar resposta na temperatura, no sol, na maciez da pele, no conforto, no desejo, no sexo, no que existe de primordial entre homens e mulheres.
Que as coisas do mundo corram e ocorram a nos conduzir para as cerimonias da canção “Os Grãs”, de Herbert Viana, para que nossa vida, como um poema não nos deixe indiferente. “A vida que eu não tinha ainda agora começou, um outro sonho tanto quanto os eu que já vivi”.
Compor e cantar “Drão” não é fácil. Eu não vivo sem escrever. Corro para o computador porque trago o tema da pedalada, da caminhada, da musica que ouvi, do sonho que me lembrei.

Milton Nascimento, cuja voz é um acalanto, o prazer de ouvir e interpretar os significados sugeridos pelo autor da canção “Drão”. Nem todo mundo tem uma “Drão”.

Depois de ouvi-lo, o prazer disso: os desenhos que se formam na voz de Milton Nascimento, os cadernos por abrir, o toque dos ossos, o vento e o chumbo com caracteres antigos.

Nunca saberemos porque tais vocábulos ficam tão bonitos numa canção, que fala de separação, “Drão”.

Kapetadas
1 – Quando esse confinamento acabar… sei que nada será como antes… Salve o fígado.
2 – O Brasil é maravilhoso, mas é doente, esquizofrênico.
3 – Som na caixa: “Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar”, Gil

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