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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Solha faz 80 anos na chuva

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publicado em 14/05/2021 ás 08h51
atualizado em 14/05/2021 ás 12h51

Acabou o mundo e W.J.Solha está de pé aos 80 anos, entre nuvens e um céu escuro numa cidade onde as acácias estão molhadas pós erotismo com outras espécies. Dias de chuva, mas o sol voltará para festejar a arte e a vida de Solha, Eça ou esse ser tão raro nesta cidade, entrando pelas portas do Ser-Tão, pelas frestas da vida, vida minha (tua) vida, olha o que é que eu fiz.
As obras, as telas, Solha nu nas sementes que brotam, os brotos que vêm do cinema, que se revelam em cenas, o que tem de melhor, ainda está por vir no brilho da flor do cacto, que aproveita para florir o seu caminho.
Solha chegará aos cem anos, no colorido dos matos nos canteiros das avenidas que nos levam ao mar.
Solha está nos pés das árvores, palmeiras imperiais, no dente de leão amarelado, as papoulas vermelhas, as florezinhas que só abrem às onze horas e por isso têm esse nome e não sei o nome de outras, brancas, jasmins, rosas, quase azuis.
Isso foi antes de eu ler o texto primoroso de Silvio Osias, todos os dias, de ver quadros psicodélicos, anunciadores do apocalipse now, nas paredes de Osias e Julie, antes de passar pelo jardim da nossa casa, isso bem antes de Sorocaba, antes dele nascer.
Solha é a terra nua, feridas abertas no cimento sem nenhum sentimento e cada criança no seu quadrado, sozinha, aos pés da Santa Cruz. Solha é ateu e viu milagres como Himeneu.
80 anos não é para qualquer um, muito perto dos 1oo, mas eu não troco Solha nem por cem e uma cocada. Ah, estou a lembrar quando erámos meninos, jogando castanhas para derrubar o castelo, uma castanha grande e o dinheiro eram notas de carteiras de cigarros, Hollywood ou Minister.
Os novos Solhas virão nas asas dos anjos de Berlim, na cara dos projetos paisagísticos de Burle Marx e das Três Graças de Rubens.
E tudo viceja na lógica dos bosques. Que nome bonito, bosque dos sonhos.
Há quem diga que eu estou delirando, que eu não estou entendendo nada num país que insiste em ser do carnaval, imagino que este pluralismo soe desconcertante e mestre Sonha dê um puxão em minhas orelhas.
Solha oitentão, ô sorte!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB