João Pessoa, 18 de maio de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Branca de Neve (BN) foi exibido em 1937. O conto, de onde veio o filme, condensa conflitos humanos, sob a forma de inveja, madrasta má, narcisistas e espelhos falantes. Transformações da Branca em maltrapilha e sete indecifráveis anões. Tudo dentro das possibilidades imaginárias da fantasia.
A rainha má se transforma em bruxa. Cria a maçã envenenada que, se for comida, provoca o sono da morte. A bruxa engana BN, assegurando que quem comer a fruta milagrosa, todos os seus desejos se realizarão. Ao contrário, quem a comer só despertará do sono depois de um beijo verdadeiro
Duas críticas, do San Francisco Gate, deram de questionar a nova produção da Walt Disney. Embora elogiem os refinos da produção, encontraram um problema. O beijo que o príncipe deu na BN, sustentam, não foi consensual, considerando que ela. Apelam para que o final da história seja adaptado e posto de acordo com os valores do século XXI. Eis o problema.
Jim Shull, diretor criativo da Walt Disney, defende que, apesar de todas as mudanças culturais, a atração é baseada num filme com mais de 80 anos, vivendo em sua terceira idade. Uns podem não gostar, admite; mas o trabalho criativo é espetacular, frisa Jim.
Acho que isso não é uma questão exatamente nova. Há outro final por aí em que, ao levantar o caixão, os sete anões deixam cair, e desloca o pedação de maçã da garganta da BN, e ela desperta. Achei esse horrível esse final!
Se a gente confundir conto de fada com vida real, também acho que esse negócio de “sono da morte” não existe. Vamos dizer a verdade: a BN entrou em coma profundo ou em catalepsia. Mesmo assim, as autoras da reclamação referem que não é correta a mensagem que a cena do beijo passa às crianças. Um beijo sem o consentimento de ambas as partes.
Para Bruno Bettelheim, em a “Psicanálise dos Contos de Fada”, o motivo central de “Branca de Neve” é a garota pré-adolescente superando, de qualquer modo, a madrasta malvada que, por ciúmes, nega-lhe uma existência independente; ao tentar aniquilá-la. Assegura que um conto de fada pode ter significados importantes, porém, completamente diferentes entre uma criança de cinco ou 13 anos. Para uma garotinha de cinco anos, maltratada por uma mãe fria e distante, pode significar um arejo de salvação.
Se eu fosse contestar o filme, à luz dos novos comportamentos, questão de a mulher necessitar e homens (anões, príncipe) para salvá-la, seria mais complicada que a em si. O beijo, representando o amor puro, poderia ser de um peito materno, de um pai protetor, de outros personagens em quem a criança projeta sua segurança. Atribuíram a um “príncipe”.
Passará longe, creio, para as crianças, a sensualidade, ou a consensualidade, porventura, embutida na cena. A lição é do bem enfrentando o mal, e não da permissividade ou não das pessoas que se relacionam. Acho que o tiro não atinge o alvo.
Uma curiosidade me ficou atravessada: se mudarem os contos, se acabarem as fadas; nosso planeta renascerá melhor? Quando refizerem a BN, ela continuará branca? Ela será de neve? Ou virá enguiçada em restos de latas e de plásticos derretidos no lixo da floresta? Não seria melhor, deixarmos os inocentes contos infantis na pureza da emoção e da curiosidade fantástica que nos despertavam?
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TURISMO - 19/12/2024