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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A despedida, por assim dizer

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publicado em 18/05/2021 ás 07h59
atualizado em 18/05/2021 ás 08h07

Uma amiga mandou uma mensagem, dizendo que o hospital (do Rio de Janeiro), pediu que ela fosse se despedir do marido. Era domingo. Chorei sozinho.

Sem um norte, como ficará minha amiga, pelo chamado estabelecido a priori da morte, dado o contexto da cena da Covid 19? A morte (in)certa e nosso conhecimento limitado dessa viagem de cada um. Eu não sei como estou aqui conseguindo escrever esse texto.

Tudo mal. Preferi me acalmar. Botei para tocar o disco “Tudo Bem” que o marido dela havia me dado – “Tudo Bem” do Joe Pass and Paulinho da Costa, o percussionista brasileiro, cuja primeira faixa é “Corcovado” de Jobim e Vinícius. Ainda temos “Barquinho” de Roberto Menescal e outras belezas da canção brasileira. No disco ainda tocam Oscar Castro Alves, Octavio Baill, Claudio Slon e Don Grusin.

Esse disco é genial, mas Marcelo me deu muitos outros.

Isso dela dizer, que foi chamada ao hospital para se despedir dele, bateu aqui em mim.

Um cara inteligente, que gostava muito de música, de jazz, que veio diversas vezes em nossa casa, quando moravam no Cabo Branco, aqui em João Pessoa. Moravam tão pertinho que vinham a pé. Eu adorava quando eles chegavam. E quando iam embora, ia deixá-los no portão.

O discurso da morte tomou uma dimensão com o poder de falar por si, feito uma tempestade, uma morte atrás da outra, a partir deste conjunto de cenas em que estamos vivendo há mais de um ano. Ou milhões de anos.

No processo de analisar e eu jamais quero isso, em muitos casos pela aproximação da pessoa, quando li a mensagem da amiga Chris, fui tomado por algumas inquietações.

A mais forte foi sem dúvida perceber a convergência de um referencial que tínhamos nos nossos olhos e sabíamos que nos amávamos tanto, em grande parte da nossa dor, nossas perdas, as referências marcantes da morte na paisagem e/ou da natureza de cada um.

Seja como assunto, tema avulso, que vem nos matando, comentário tal, recurso informal ou papo de WhatsApp, tal presença se faz impor de um modo inesperado. No final da tarde, ela disse: “Marcelo fez sua passagem agora” .

A morte a olho nu, no retrovisor cerebral, mais incisiva, quando a pessoa é chamada para ir ao hospital se despedir da outra frente à qual não pudemos permanecer impávidos.

Obrigado, muito obrigado Marcelo Câmara, sua vida valeu!

Kapetadas

1 – O texto é para Chris Couto, que ela a chamava de Ana Christina.

2 – Todos os dias muita gente grita: “Acorda, Brasil!” Mas o país apenas amanhece.

3 -Som na caixa: “Por favor, uma emoção pequena/Qualquer coisa”, Arnaldo Antes

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