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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Tente esquecer em que ano estamos

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publicado em 29/05/2021 ás 08h14
atualizado em 29/05/2021 ás 11h57

Acho que foi num filme

Um amigo fala pra o outro amigo: “ah, estou de saco cheio de tanta coisa”. O outro: “ah, você sempre está de saco cheio. Isso não é novidade.” O um: “é mesmo. Você já me conhece há tanto tempo. Eu estou de saco cheio desde o ano passado.” O outro: “então larga de besteira e tente esquecer em que ano estamos.” O um: “larga você.” “O três: vocês surtaram?” Eu sempre lembro que é proibido pisar na grama.

Acho que foi numa canção

“Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio, bota a mãe no meio, a mãe no meio, dou pernada a ¾ e nem me despenteio, que eu já tô de saco cheio”. Grande Chico Buarque!

Acho que foi num romance

Quando eu era pequeno, tomava chá Capim Santo antes de dormir. Quando eu ia me despedir do meu pai por qualquer motivo, ele dizia: “te cuida”, que era para ele ficar tranquilo. Abraço, pai em você, que não está mais aqui e em todo mundo que quiser e aparecer. Sou muito aplicado, pai, mas não sou canário do rei.

Acho que é uma questão de ritmo

A velocidade das coisas – viola, folia, amor, dinheiro não – os ritmos, sons estabelecidos, compensações, arranjos e desarranjos, concertos e consertos, arrumações e confusões, substituições, emendas, projetos, CPIs e até improvisos.

Acho que é melhor caminhar

A respiração acompanha este movimento e os ombros doem, a garganta arranha noutra canção, os dentes atritam, mas não tenho bruxismo e as costas vergam. O dia inteiro de frente para o computador. Tá lá um corpo estendido no vídeo. Tá lá uma foto de um gol.

Uma história antiga, maio de 2021

Maio se vai e os dias passaram empurrando corpos para suas covas. Nas marquises das farmácias e sinais são outros dias atrás, que meus olhos marejam e choro sozinho. Ando chorando ultimamente.

Acho que é coisa do mal

Absurdos esdrúxulos dos outros dias, de outras casas, meia noite e meia, uma menina de 9 anos se joga do 22º andar no Bairro dos Estados, em João Pessoa. “Mães zelosas/Pais corujas
Vejam como as águas de repente ficam sujas/Não se iludam/Não me iludo”. Grande Gilberto Gil!

Certas canções…

Não aponte o dedo, para Benazir Butho, seu puto, ela está de luto pela morte do pai. Grande, Chico César!

Acho que é uma agonia

Preciso passar, preciso passar por favor, dá licença, quero falar uma coisa, advinha onde ela anda, quero falar do coração de Milton Nascimento, que está dentro do peito.

Acho que foi no amanhecer

De repente, no meio de uma hora clara, um daqueles bichinhos de luz nos lembra que há ritmo ainda, um vaga-lume escondido atrás do sofá e uma esperança me faz acompanhar a cena, outra vida, uma tomografia, um teste de antígeno, por um minuto que seja, em seu tempo propício, não deram nada.

Esquecer em que ano estamos? Saudade de Luiz Melodia, Melodia, holly Melodia (foto)

Kapetadas
1 – Tenho 1h e 5 minutos de argumento para o que acredito. Mas meu tempo vale mais do que discutir com quem sequer me conhece. E priu.
2 – Recado – Já tem teste no estilo “Veja que comorbidade combina mais com você!”? Será que tem gente tomando a vacina sem comorbidade?
3 – Som na caixa: “No meu céu a estrela guia se perdeu”, D. Ivone Lara

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