João Pessoa, 08 de junho de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Cem anos não é para qualquer um viver.
Tenho uma história simples, mas cheia de amor pra contar. Quando Maria Carvalho de Brito fez noventa anos, os filhos fizeram uma festa e nos convidaram. Fiz um discurso e dei a ela uma tela, pintada por Flávio Tavares. A imagem é de outra Maria, a mãe de Jesus. Assim se passaram dez anos.
Naquele dia, vi Maria passeando em volta da família aproveitando a festa, com as asas da juventude. Exatamente assim: Maria sempre foi feliz nas horinhas de descuido, como nos ensinou Guimarães Rosa.
Maria chega aos cem anos com saúde, lúcida, nesses tempos pandêmicos em que a civilização se desfaz.
O ponto alto do dia dela certamente não é hoje, (8 de junho), mas o dia 24 de maio de 1945, quando casou com Ascendino Toscano, o homem da sua vida, com quem viveu 50 anos.
Eles engendraram Germano, Kleber, Ana Maria e Kelva (que partiu em 2020). Essa essência, esse quarteto, forma o retrato dia e noite de Maria. Os filhos estão sempre juntos dela e o tempo é a matéria prima desse amor. O maior presente é a família.
Maria espia a estrada e a luz lhe guia.
Toda vez que lembro dos 90 anos de Maria, sinto essa força de mais uma mulher que chega aos cem anos. Poucos homens chegam lá.
Maria continua a mulher das coisas simples, dona de sua casa que não esquece de fechar o portão do jardim, mesmo que já esteja deitada. Ou quem fazia isso era Seu Ascendino? Deus sabe a existência dessa longevidade.
Às vezes penso no tempo de antes de eu nascer. E algo se reflete diante de todas as vidas que passam dos cem anos.
A alegria de ser amigo da família de Maria, me serve de acalento ao ato de escrever esse texto; a sentimentalidade dos filhos, que hoje cantam parabéns para ela.
Maria é um nome bonito!
Maria é música. “Maria, o teu nome principia, Maria, de olhos claros cor do dia, como os de Nosso Senhor”, de Silvio Caldas.
Eu sempre acreditei que Maria Carvalho de Brito chegaria aos cem anos. Se eu chegasse aos cem, já me imagino calçando a sandália, ligando a lanterna e partir para o resgate de sonhos do meu jardim, mas eu não sou Maria, para ter esse privilégio.
O ciclo da vida tem esse poder que pode ser definido de formas diversas, uma escolha possível e útil para intenções neste raciocínio: o fato de ser centenária não é uma questão de escolha, é uma benção de Deus.
Maria certamente não fumou na vida, dorme cedo, não toma antidepressivos, nem esses remédios para dormir e acordar, não viu sua vida manipulada, controlada, nem sabe da crueldade das redes sociais.
Maria e Ascendino – o amor quando acontece ele tem o intuito de atingir a longevidade, inclusive, a capacidade de extrair da vida os seus milagres. Salve, Maria!
Não faltam palavras para homenagear Maria Carvalho de Brito em seu centenário. Quando veio ao mundo, sob o sol de Guarabira, já estava estabelecido que viveria dez décadas.
E vai bem mais…
Meus parabéns para você Maria, 100 anos não é para qualquer um viver.
Kapetadas
1 – O texto é dedicado aos netos Rodrigo, Vinícius, Germana, Juliana, Alberto, Sergio, Luís Alberto, Ana Luiza, Ana Carolina e Kleide. E aos bisnetos Germano Neto, Victor, Juliana, Kleber Neto, João Vitor, Mariana-Mateus, Giovana, Gabriela, Beatriz, Henrique, Pedro, Ian, Iago, Maria Izabel, Caio, Nathan e Lucas. E ao anjo Augusto (In memoriam), e Guilherme, a luz que chegará em novembro.
2 – Dedico também as noras, Teresa e Leda.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
TURISMO - 19/12/2024