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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Os bichos sem coração

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publicado em 11/06/2021 ás 07h16

A gente fica olhando para esse mundão de meu Deus e bate um banzo, um desengano, uma revolta… Tantos motivos! As razões da tristeza estão em tantos lugares, mas, do ano passado para cá, elas são desmedidas, abarrotam-se e se espalham pelas ruas, estão em todas esquinas, nos sinais de trânsito, deitam-se pelas estradas, moram debaixo das pontes, pedindo misericórdia, expondo as vísceras de uma pandemia não combatida no momento oportuno e que se abateu sobre o mundo catapultada pela covardia e ruindade dos homens do poder.
Mas, o Estado é tão sovina, só tem mãos frouxas para emendas parlamentares, compra de tratores superfaturados, pagamento de blogueiros mequetrefes, cartões corporativos ilimitados, financiamento da proteção de gente poderosa que gosta de sair às ruas de motocicletas, uns veículos potentes e esquisitos, sequer usam máscaras, como se fossem — e são — uns bichos sem coração e razoabilidade.
Coração. Acho que essa gente não tem. Não me refiro às pessoas que dobram as esquinas da precisão, posto que essas são de carne e osso, e o coração é imenso, como se fossem uma mãe desesperada que sai às ruas à cata de comida para os seus filhos, sem ninguém por trás, para protegê-las das intempéries que sua coragem e desespero evidenciam.
Falo das outras pessoas, as que retesaram o coração e deixaram-no boiando dentro de um penico cheio de merda, mas marinaram seus disfarces inescrupulosos nos cultos religiosos, embora a vontade delas esteja tão distante das coisas divinas, ao ponto de suas ações, dia sim, dia não, gritarem a pequenez de caráter e ostentarem o lado anticristão de que são portadoras ao extremo.
Esse tipo de gente torpe tampouco é patriota. Não. O verde-amarelo que ostenta em suas vestes converte-se no amarelo-esverdeado, a cor gosmenta do catarro daquelas gripes bem maduras. O patriotismo deles é disfarce para entregar as riquezas do país sob um pretexto fingido e xexelento.
Esse tipo de gente é gente do sistema. Sim, babão do sistema, instrumento do sistema, e, entre ela e o sistema, a diferença é apenas de grau de desumanidade, já que o dito cujo é a engrenagem de moer gente e dignidade, e elas, as pessoas sem coração, as porcas rotas e azeitadas que fazem as moendas girarem.
Coração… que baboseira. Essa gente não tem! E se tem, é de pedra, e, se é de pedra, não chora, mas ri. Como riem dos desesperançados os bichos sem coração! Sei não, meu Deus. As trevas caíram neste país. Que se faça a luz!

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