João Pessoa, 19 de junho de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

O testamento de Adão

Comentários: 0
publicado em 19/06/2021 ás 07h52
atualizado em 19/06/2021 ás 07h58

Ministro Marco Aurélio, (foto)do STF, utiliza uma expressão que eu sempre quis repetir e finalmente chegou a ocasião: “- Vivemos tempos muito estranhos”. Será que só eu notei que os petistas e os bolsonaristas dividiram o Brasil entre eles? Com as exceções que só justificam a regra, quem não reza pela cartilha de Bolsonaro é petista ou comunista. Já os petistas acham que todo eleitor que não acompanhar seu líder varia num espectro que vai de analfabeto político a genocida. Chegamos a um ponto em que ou se é gado ou se é jumento.

Nem vou falar das minhas convicções pessoais porque todo mundo sabe que meu lado na política é o lado de fora enquanto não se instalar uma democracia participativa e os candidatos possam existir de forma avulsa.

O que me impressiona é a enorme quantidade de eleitores brasileiros que de repente deixaram de ser importantes e cujas opiniões valem zero para esses extremos.

Aos números.

Qualquer que seja o instituto de pesquisa que tenha realizado seu trabalho nos últimos tempos o resultado será, grosso modo, o mesmo. Podem conferir. Tanto Lula como Bolsonaro variam ao redor de 25% da intenção dos votos. Portanto, sobram “apenas” 50% dos eleitores. Poderíamos entender que a metade dos brasileiros assumiu a totalidade dos destinos políticos do País. Não é assim. A persistirem esses números as duas bandas disputarão o segundo turno haja vista a incapacidade dos demais candidatos (de Ciro Gomes ao Cabo Daciolo) abrirem mão de suas vaidades e interesses para uma ampla composição. Portanto, o que resultará ao final será um país governado por 25% dos eleitores. É da democracia que a maioria governe. No caso, qual maioria, cara pálida? Mas é do jogo eleitoral que isso ocorra. Me parece que voltamos ao tempo do tratado de Tordesilhas, quando a Coroa de Castela e o Reino de Portugal dividiram o mundo a ser descoberto em duas partes, cada uma para um deles. Os demais países chiaram, a ponto de Francisco I da França pedir para ver em qual clausula do testamento de Adão havia essa disposição.
Será que nesse testamento de Adão, se é que ele dividiu o Brasil entre jumentos e gado, não sobrou espaço para o resto da arca de Noé?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB