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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

A perseguição de livros por um capitão do mato

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publicado em 25/06/2021 ás 07h37

Só pode ser fumaça de bosta de gado estragada com merda dentro. Essa gente cheira ou come, senão as duas coisas, já que os menos aloprados deles, quando falam ou agem, fazem-no em uma escala fora de qualquer limite de bom senso e de razoabilidade.

Não bastassem as mais de 500.000 mil mortes, a venda da Eletrobras, a defesa da imunidade de rebanho, a realização sistemática e desarrazoada de motociatas ao custo milionário para os contribuintes, as mentiras tiradas a prova dos nove na CPI, as agressões às mulheres jornalistas, o orçamento paralelo, o alto preço do gás de cozinha, da gasolina e da carne, agora inventaram de banir livros das bibliotecas.

Sim, acreditem! Esse tempo de barbárie voltou, e há gente vestida de verde e amarelo que aplaude essa sandice como se tivesse sido abduzida por um tipo de verme que chupa o cérebro deles, deixando-os como zumbis, uma carcaça hipnotizada, porém muito barulhenta e desordeira.

É a moda deles, a de quem não tem o que fazer, ou, tendo, direcionam seus miolos moles para o que tem de mais vil e abjeto. A novidade veio capitaneada por alguém que se comporta como um capitão do mato, o comandante da Fundação Cultural Palmares, cuja razão de existência direciona-se à “promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”. É o que está escrito na página virtual da entidade.

Um tal Sergio Camargo. Ele e seu séquito de destemperados. Trata-se de um tribunal ideológico que seleciona os livros pelas capas e seus autores e os vai colocando em um cesto maldito, quando esse ou aquele livro não se alinha com as diretrizes da guerra cultural no delírio de Olavo de Carvalho.

O pau-mandado do desmande, que, em 2020, já havia excluído do rol de homenageados da Fundação 27 personalidades negras, aí incluídas Gilberto Gil, Marina da Silva, Sandra de Sá, Milton Nascimento, Conceição Evaristo, Elza Soares e Benedita da Silva, dentre outros — talvez porque esses não tenham fumado no cachimbo ideológico do bolsonarismo raiz —, agora avança seus tentáculos sebosos contra os livros, em um gesto de límpido alinhamento com as trevas da alta Idade Média, quando esses instrumentos do saber crepitavam nas labaredas das fogueiras.
Conta-se que, dentre outras, serão excluídas do acervo obras de Max Weber, Karl Marx, Erick Hobsbawn, Émile Durkheim, Nelson Werneck Sodré, Raymond Aron, Caio Prado Jr. e Simone de Beauvoir. O pretexto, que não passa de uma desfaçatez, é uma suposta desatualização das obras, dada a última reforma ortográfica, bem como — e essa é a razão real — uma suposta dominação marxista na configuração do acervo, delírio desse povo de quengo desmiolado seguidor de Olavo de Carvalho e de Carlos Bolsonaro.

Tirando esses seres que estão na crista da onda do governo federal, qualquer curador de uma biblioteca que valha o nome aceita, de bom grado, os livros objeto do expurgo, muito embora isso nem precise acontecer, basta que, instado, o Poder Judiciário deite os olhos do bom senso e da responsabilidade sobre esse ato vil, atentatório aos bons costumes da cultura.

A única preocupação é que a ação judicial caia na vara de algum magistrado terrivelmente evangélico ou na de alguma toga venal ao poder, desse tipo de juiz que tem, como razão de vaidade, os olhos inclinados para a composição de algum tribunal superior. Se isso acontecer, melhor a fundação Cultural Palmares renegar a sua existência, quem sabe negando a própria escravidão do povo negro. Só falta isto: a barbárie e a histeria dos escrotos.
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