João Pessoa, 28 de setembro de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A eliminação do Costa Concordia, que foi a pique na costa da Toscana em janeiro de 2012, será a operação de resgate mais espetacular na história da navegação. A pressão sobre a equipe é enorme: se qualquer coisa der errado, a operadora do navio terá outro desastre em suas mãos.
As palmeiras estão murchas em vasos pendurados nas grades enferrujadas. As cadeiras estão jogadas pelo deque e ainda se pode reconhecer as mesas de banquete devastadas sob o telhado de vidro. De perto, em um dos botes infláveis da guarda costeira, o navio cruzeiro Costa Concordia parece uma cidade que foi evacuada às pressas.
O relógio sobre a piscina infantil parou às 23h30 no dia 14 de janeiro, na noite em que o navio encalhou. Àquela hora, o capitão Francesco Schettino já tinha abandonado o navio, mas os passageiros e os tripulantes ainda estavam lutando por suas vidas.
Nicholas Sloane, 51, sul-africano de cabelos ruivos, sardas e mãos que parecem patas de urso, está guiando o bote de borracha em torno do acidente. Diante dele está o enorme buraco no casco gigantesco, onde parte da pedra que causou o acidente ainda estava presa até recentemente. Acima, há trabalhadores pendurados em uma gaiola de aço suspensa de um braço de um guindaste flutuante. Ele grita uma brincadeira para os soldadores que estão pendurados contra a parede da proa como montanhistas.
Sloane é o mestre do resgate do Costa Concordia. Ele estudou ciências náuticas. Com seu título, ele poderia comandar um cruzeiro de luxo como o Queen Mary 2 ou um superpetroleiro, mas esse tipo de carreira nunca o interessou. Sloane não capitaneia navios -ele se livra deles. Nas últimas três décadas, ele vem trabalhando como homem de limpeza dos oceanos do mundo, içando petroleiros afundados e cortando navios debaixo d’água. Mas seu papel na ilha de Giglio é desemborcar o navio para que possa ser puxado para um porto no continente –na melhor condição possível e ainda inteiro.
Depois, as equipes de televisão produzirão novas imagens -para superar as antigas que ficaram marcadas em nossas mentes: imagens das pessoas desesperadas descendo pelas cordas na lateral do navio para alcançarem os botes salva-vidas. Trinta e duas pessoas morreram naquela noite.
Como um lobo do mar e sua amante – O telefonema da empresa da Flórida Titan Salvage alcançou Sloane quando ele estava removendo um cargueiro de um coral na Nova Zelândia. Ele nunca tinha ouvido falar em Giglio, a ilha encantada localizada entre Elba, Montecristo e a costa da Toscana. Ele pensou no vinho pinot noir italiano, que ele aprecia tanto, ligou para a mulher e perguntou a ela se ela gostaria de se encontrar com ele na "boa e velha Europa". Esqueça, disse ela, que tinha visto imagens horríveis de Giglio na televisão. Poucas semanas atrás, porém, ela mudou de ideia e visitou-o com seus três filhos.
Sloane fala com carinho sobre o navio, como um velho lobo do mar referindo-se a sua amante. Ele descreve como pretende protegê-la em um colchão de cimento -como planeja vesti-la com boias flutuantes presas às suas laterais. Seu uniforme de trabalho, uma camisa polo branca, tem o lema da missão bordado: "Determinação e amor".
Sloane está atuando em nome da Costa Crociere, empresa de navios italiana que é proprietária do Costa Concordia. Ele atualmente comanda cerca de 100 engenheiros, 24 mergulhadores e quase 100 outros especialistas. Se a operação de resgate for um sucesso, ele diz sorrindo, ele navegará triunfante no deque superior perto da piscina. O plano é o Costa Concordia voltar a flutuar na primavera, mas apenas para uma breve viagem final -e muito pode acontecer até lá.
Na ilha de Giglio, eles estão atualmente preparando a mais espetacular manobra de salvamento na história marítima. Nunca antes um navio de cruzeiro tão colossal tinha sido erguido novamente. O navio tem 290 metros de cumprimento e 36 de largura. Ele tem um deslocamento de 50.000 toneladas. Para tornar as coisas mais difíceis, está deitado em uma posição precária sobre uma pedra e corre o risco de escorregar para águas mais profundas. O resgate deve custar pelo menos 300 milhões de euros (em torno de R$ 786 milhões) e vai estabelecer novos padrões técnicos e ambientais.
De fato, a ideia é dar uma imagem limpa a uma indústria maculada, fazer um gesto grandioso depois do grande fiasco. Também se espera que, se o navio de passeio puder ser salvo de uma forma exemplar, enviará um forte sinal aos que criticam a tendência da indústria de construir navios cruzeiros cada vez maiores. Para a Costa Crociere, o futuro está em jogo, pois precisa reconquistar a confiança do público. Como parte desse esforço, a empresa convidou uma equipe do "Spiegel" para visitar o local do acidente e pela primeira vez apresentou detalhes do trabalho de resgate.
UOL
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