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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

A disputa

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publicado em 06/07/2021 ás 06h57

Sou um trabalhador. Considero-me assim. A cada semana, ponho-me a resolver demandas, seja na função de professor ou de médico. As tarefas são realizadas com igual empenho. Nenhuma vale mais que outra. O objetivo maior é realiza-las da forma mais especial que eu possa. Nada de enrolação. Nem de desleixo, seja na obrigação pública, seja na minha própria obrigação.

Sou um sujeito tímido, embora não pareça, porque, desde cedo, aprendemos a arte de “enganar” os outros. Sorrir quando estamos tristes, se o ambiente pede um sorriso. Calar, quando deveríamos chamar alguns palavrões e botar toda a raiva para fora. Dissimular que não ouviu nada, quando o que foi escutado, chegou-nos aos ouvidos, e às estruturas neurocerebrais que as traduzem.

Não é que, mesmo com esse perfil reservado, inventei uma candidatura à Direção do Centro de Ciências Médicas, da minha única empregadora, a UFPB. Ela que está presente na minha vida, desde que saí de minha terra e, um ano depois, fui aprovado no vestibular de Medicina. Aliás, o único lugar onde eu poderia cursar. Por conta de algum apoio logístico e, mesmo que quisesse, ou pudesse, e eu não podia, não havia outros cursos em escolas privadas no nosso estado.

Só para lembrar, embora, condenemos a toda hora, o que é público, as escolas públicas, não só foram pioneiras, como se posicionaram entre as melhores; apesar das reduções sucessivas de orçamento para a educação, desde 2014. Altivas, continuaram tratando ferimentos financeiros repetidos, e se impondo no ensino, pesquisa e na extensão do país.

Sim, a candidatura. A princípio, situação angustiante. Abordar colegas em busca de voto. Se fosse pedir por alguém, seria fácil. Pedir para mim mesmo, quanta dificuldade. Pelo meio do caminho, haveria um debate. Não que tivesse medo de debater. Minha preocupação era o confronto com colegas. A possiblidade de nos ferirmos. Já vi, tantas vezes isso acontecer, naquela mesma escola.
O debate foi muito bom. Ao invés de criar rusgas, aumentou o respeito e a admiração mútua entre os três participantes. Não sei como aconteceu. Mas, proporia que esse fosse o modelo para se debater dentro de uma instituição de ensino, onde existem educandos e educadores.

Sobrevivi. O resultado? Ainda não sei. Sei que, se passar, haverá um segundo turno. Invenção avessa para prolongar essa exposição e, junto, o atormentamento de um sujeito, afeito à discrição, à incolumidade, à distensão. Pouco acostumado a provocações, mas reativo aos destemperos que, por acaso, lhes sejam engolidos de forma atravessada. Estou no meio da ponte. Pular não vou.
Agora, é chegar ao fim. Tomara que da mesma forma que tudo começou. De maneira cortes, ética e em paz com todos.

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