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O homem ao adentrar no universo planetário traz consigo instintivamente a primeira forma de comunicação: o choro. É através dele que estabelece seu relacionamento com as pessoas que estão ao seu entorno e a linguagem para expressar o que está sentindo. É o desconforto da fralda molhada, a comida que não gosta etc. Dessa maneira vai atingindo os objetivos e a satisfação do seu conforto e comodidade. Com o tempo, essa situação evolui e cada vez mais torna-se complexa em sua formação, que deve apropriar-se da linguística formal de símbolos e significações para relacionar-se. No contexto civilizatório isto só não basta, terá que incorporar novos conhecimentos que lhe agreguem conteúdos e tecnologias cibernéticas, para agora, não só exprimir o que deseja às pessoas que estão próximas, mas manter contato com o mundo.
O desejo do homem em interagir com as pessoas, com a natureza, com tudo que está em seu entorno, impulsionou-o para novas descobertas que pudessem expandir a sua informação entre o emissor e o receptor que decodifica e interpreta uma determinada mensagem. Nessa direção cientifica e tecnológica, nos meados do sec. XIX, surge o telégrafo como primeiro aparelho de comunicação a longa distância Inventado por Samuel Finley Breese Morse, em 1835, em Charlestown Massachusetts, nos Estados Unidos. O chamado código Morse foi muito utilizado nas guerras. Chegou ao Brasil em 1857. A primeira companhia telégrafica sem cabo com a emissão e recepção de sinais sem fio, instalou-se, entre Petrópolis e a praia da saúde, na cidade do Rio de Janeiro.
Nessa caminhada para criação do rádio, inicia-se com a descoberta da indução magnética por Michael Faraday, em 1831, consolidada a propagação radiofônica em 1887, através de Henrich Rudolph Hertz. É finalmente criado o rádio por Marie Sklodowska Curie e seu marido Pierre em 1898.
O rádio nasceu no Brasil, oficialmente, em 7 de setembro de 1922, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil. A rádio difusão brasileira foi inaugurada com a primeira transmissão realizada no Rio de Janeiro com o discurso do presidente Epitácio Pessoa, transmitido ao vivo. Em seguida, foi apresentada a ópera O Guarani, de Carlos Gomes. Viveu o país a partir daí a era do rádio (Revista Veja, 2.11.2005 pág.114). No dia 20 de abril de 1923 foi ao ar a primeira emissora de rádio do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que, em 1936, se tornou a Rádio MEC, fundada por Roquete Pinto e Henrique Morise. O rádio converte-se no meio mais popular e o de maior capacidade de comunicação de massa. Segundo o Ministério das Comunicações, o Brasil possui aproximadamente 9,4 mil emissoras em funcionamento, incluindo AM e FM e está presente em 88,1% dos domicílios do país.
Na Paraíba, a primeira estação de rádio surgiu entre 1930 e 1931, época em que havia movimentação da população do campo para a cidade e do sertão para o litoral (Mello, 1987), sendo a pioneira a Rádio Club da Paraíba, hoje Rádio Tabajara.
Chegou às minhas mãos a obra do escritor, professor e historiador, membro da Academia Paraibana de Letras, José Octávio de Arruda Melo, sob o título “A Arapuan e o rádio paraibano – Uma biografia dual “. Como historiador, José Octávio faz um resgate da história do rádio paraibano, através da sua biografia e da do seu irmão Otinaldo Lourenço, com enfoque central na Rádio Arapuan, onde os mesmos tiveram participação efetiva. Como diz o prefaciador do livro, Gilson Souto Maior, citando o inglês e também historiador Peter Burke (2011) “a função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer”. É o caso deste livro que entrelaça a biografia com a história do rádio paraibano situando-o no contexto de tempo e espaço. O que foi muito bem dito pelo autor até porque a história do rádio e sua evolução acompanha também o desenvolvimento sócio-político-cultural-arquitetônico da cidade, o que torna a leitura agradável e prazerosa.
O perfil biográfico é traçado constituindo-se a linha de tempo – infância, formação e atuação profissional. Otinaldo, nasceu m Pernambuco, na cidade de Surubim, mas viveu sua vida na Paraíba. Como profissionais, foram professores da UFPB. Otinaldo na área de Jornalismo e José Octávio na área de História. Destacaram-se no radiojornalismo, iniciando nessa função muito cedo, principalmente no setor da radiofonia. Apresentam vastos currículos com os títulos de Bacharel em Direito, menção honrosa de diversos órgãos do Estado pelos serviços prestados à cultura paraibana. Atuaram em vários campos do radiojornalismo, exerceram diversos cargos: diretor, coordenador, redator, colunista em diversos jornais como: O Momento, A Tribuna, A Hora, A União e Correio da Paraíba. Otinaldo foi Secretário de Estado em tres governos: de Divulgação e Turismo: no de Ernani Satyro e no de Ivan Bichara; Secretário de Comunicação no governo de Dorgival Terceiro Neto. Destacou-se como cronista esportivo e torcedor do Náutico Capibaribe.
Trata o livro do universo da comunicação paraibana a partir do final da década de 30. Conta a história de como começou a Rádio Arapuan, com serviços de auto-falantes e locutores famosos como: Orlando de Vasconcelos, Genival Macedo o próprio Otinaldo e José Otavio. No início só havia a Rádio Tabajara criada em 25 de janeiro de 1937, como órgão oficial do Estado da Paraíba pelo governador Argemiro de Figueredo. A Rádio Arapuan foi inaugurada no dia 16 de agosto de 1950, às 20 horas, com estúdios, auditório, palco e escritórios localizados na Av. Guedes Pereira, presentes o Governador José Targino, o Ministro José Pereira Lyra, o arcebispo Dom Moisés Coelho e outras autoridades. A Rádio Arapuan FM foi a pioneira na Paraíba, começou a atuar, em 2 de setembro de 1986 com 10.000 Watts de potência. Cobre 60 municípios do Estado e outros vizinhos.
A Rádio Arapuan integrou a Rede de Emissoras Paraibanas. José Octávio faz alusão ao radiojornalismo e incorpora à narração a problemática sócio-política, cultural e administrativa no Estado. Aborda a atuação dos programas que a Rádio promovia: “Big Show do Bolinha”,“Jornal Sensacional” de Airton José, “Eu sou eu e o povo é o povo,” do repórter policial Enoque Pelágio. Noticiários que mereceram destaque: “Plantão Arapuan” irradiado diretamente da Central de Notícias Dulcídio Moreira e “Antena política”; eram líderes de audiência. Merece relevância as mulheres cantoras e radialistas, Nauda de Abreu, Ana Paula, Irece Botelho e Zélia Gonzaga, que fizeram sucesso.
José Octávio, no livro, percorre a linha do tempo contando a história do radiojornalismo onde ele e seu irmão constituíram-se
ícones no Estado da Paraíba, e pode narrar, porque viveu, sentiu e foi protagonista dessa época. Por isso mesmo tem histórias para contar, no que recebeu a colaboração dos jornalistas, Luiz Torres, que acrescenta o texto “A Arapuan de hoje, e de sempre; Gilson Souto Maior, que depõe sobre a vida de Otinaldo; José de Assis Tito, que aborda o texto “Matéria e Memória,” e Abelardo de Araújo Jurema, político, escritor e jornalista, que escreve “No Universo de Orlando Vasconcelos”.
Como se constata, o livro de José Otávio converte-se em compêndio primário de pesquisa para investigadores, professores e estudantes interessados no assunto, onde vão encontrar material de conteúdo socio-político-cultural rico em detalhes, quando introduz no jornalismo a análise dialética de reflexão e interpretação, porque o faz no olhar do homem situado no tempo e espaço.
Acreditava-se que com o aparecimento da TV, internet e outras fontes de comunicação, o rádio desapareceria, o que não aconteceu. Hoje as emissoras dividem audiência com a televisão, a internet e as plataformas de streaming. Continuam sempre vivas ocupando o lugar anteriormente conquistado. Escuta-se alguém falando sem que ninguém possa interromper. É ainda uma grande ferramenta de comunicação. Os devotados na área do radiojornalismo vão encontrar uma história construída a muitas mãos.
Vale a pena conferir com sua leitura.
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OPINIÃO - 22/11/2024