João Pessoa, 04 de agosto de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
A professora Erika Marques, Reitora do Centro Universitário Uniesp, é doutora em Psicologia Social - UFPB, Mestre em Desenvolvimento Humano - UFPB, tem MBA em Gestão Universitária pela Georgetown College e é especialista em Planejamento, Implementação e Gestão em Educação à Distância pela UFF. @profaerikamarques

Um sopro de esperança…

Comentários: 0
publicado em 04/08/2021 ás 06h49
atualizado em 04/08/2021 ás 07h25

Um sopro de esperança. Pus esse título buscando ser um pouco mais formal, pois na realidade seria mais adequado: “um vendaval” de esperança. Certa vez ouvi dizer que esperança é a última que morre, devido ao fato de ser a última que nasce, pois ela só surge diante de uma angústia, problema ou algo que precise melhorar e a possibilidade dessa virada acontecer, e foi isso que senti.
Em uma semana de abertura das Olimpíadas, evento que nos remete à união das pessoas do mundo inteiro em uma celebração emocionante, e dessa vez mais especial, por ter gosto de retomada, de fôlego, de um pênalti aos quarenta e cinco do segundo tempo, é impossível não ser tomado pela sensação do estamos vencendo e tudo vai passar. Nessa semana também tomei a minha tão esperada segunda dose da vacina, completando o processo de imunização para a Covid e ainda foi publicado o decreto de retorno às aulas (híbridas), selando mais um passo para o retorno da nossa normalidade na educação. Esses fatos somados me despertaram uma sensação de que estamos mais perto que longe e me deram esse vendaval de esperança que transbordou em meu peito.

Após tantos meses de reclusão e incertezas, embora ainda não tendo saído do furacão que nos assola há tanto tempo, pudemos ver o mundo se emocionar e se unir em torno do esporte. Sentir brilho nos olhos, força, garra e coragem desses atletas que tiveram suas rotinas mutiladas e alteradas, mas seguiram firmes em seus propósitos, é no mínimo, reconfortante. Esses heróis, seres “quase” imbatíveis, que trazem para à nossa realidade, feitos tidos como impossíveis, personificando as histórias da nossa infância, com fascínio e encantamento. Mas ao final, vemos que são pessoas reais, com suas dores e lutas, como vimos em vários relatos nessas olimpíadas, com realidades que nem conseguimos imaginar.

Desde o início da pandemia, sempre tive o cuidado de não romantizar o período como transformador ou com um efeito mágico sobre as pessoas, até porque acho que muita gente vai sair igual ou até pior (eu e minha sinceridade indomável). Mas confesso que foi incrível ver uma grande massa se solidarizando com a atleta Simone Biles, grande campeã e favorita da ginástica artística, que se mostrou frágil e falível, como qualquer um de nós, seres mortais, ao desistir do sonho da medalha, do seu propósito de vida, por sua própria vida. Talvez essa mudança seja significativa, sentir até que ponto, nosso desempenho ou competência valem mais que a nossa essência, que nossa saúde mental. Talvez esse período de pandemia tenha nos trazido além de tanta dor e sofrimento, um olhar mais humano da dor e da condição do outro, e dentre tantas dúvidas, uma certeza embalada na canção de Milton Nascimento: nada será como antes, amanhã…

O nosso olhar para o outro nos reflete como espelho, no qual a forma que você olha e interpreta as pessoas e situações revelam muito mais de você e do que trás consigo do que qualquer outra coisa. Vivemos em um mundo crítico e cruel, de verdades individuais e intolerâncias coletivas, no qual a “teoria do umbigo” impera insolente, impondo que tudo o que não me convence ou me atrai, errado está. E assim as pessoas seguem selecionando o que as faz bem, eliminando o contraditório e se fechando em suas bolhas de posicionamentos.

Destaquei no início desse texto que não concordo em romantizar ou transformar uma condição tão dura como a pandemia como período de crescimento e grandes transformações, mas é fato que sair do pedestal e sentir a vulnerabilidade trás impactos significativos. E confesso, cá entre nós, espero estar errada, pois quero perceber que sim, que em um mundo tão louco, ainda há espaço (e muito) para transformações e evoluções afetivas e coletivas.

Deixo como reflexão a teoria dos porcos espinhos, que mesmo cada um carregando seus espinhos, existe a possibilidade de ceder e se ajustar ao outro de forma que não mais se espetem, mas com cuidado, se unam e se aqueçam. Sempre é tempo de se colocar no lugar do outro, lembrando que o mesmo porco espinho que espeta, também será espetado e o mesmo que aquece será aquecido.

De qual lado você está?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB