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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]
coluna do K

João Pessoa 436 anos: “Cidade na flor da idade”

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publicado em 05/08/2021 ás 06h06
atualizado em 05/08/2021 ás 17h08

Kubitschek Pinheiro

Fotos Antonio David

Parabéns João Pessoa, 436 anos. Cidade amada, cidade que me recebeu há mais de 4 décadas, cidadela, minha namorada. Cidade da minha juventude. Cidade das ruas dos amores onde morei: Santo Elias, Santos Dumont, Gal Osorio, Conselheiro Henriques, Duque de Caxias (no centro), Hermenegildo Di Lascio (em Tambauzinhio), Almirante Tamandaré, (Tambaú) João Câncio (Manaira) e, hoje Paulino Pinto (no Cabo Branco – o nome é uma homenagem a um preto que foi delegado de polícia) Eu quero é paz.

Cidade castigada, cheia de torres imensas por toda orla, cada uma que tire a brisa da outra. Cidade com seu cinturão de favelas, cidade amorosa de Osias, Julie, Joria, Clarice, Lourdes Freitas e Vitor Pinheiro. Germano e Tereza Toscano, que vieram de Guarabira e aqui formaram a família. Cidade da mãe da minha mulher, Dona Heide.

O barulhinho das ondas de manhã cedo e a glória de estar ali na hora que o sol nasce. O movimento dos barcos dentro de mim, lembrando outras manhãs nas paredes esquecidas dos ossos enterrados. E se não tivesse amor? E se não estivéssemos em pandemia? Ai que agonia…

O sal da terra, água na boca, o cheiro de peixe no Mercado de Tambaú, o cio de tudo. Estou aqui, sou cidadão pessoense, cujo título me foi dado pela saudosa vereadora Cruesa Pires, que fez um discurso com uma única frase: “João Pessoa, cidade verde ganha hoje mais um Pinheiro). Aliás, o que vale é o conteúdo. Às vezes penso que já morri, mas João Pessoa e eu ressuscitamos.

Sertão e mar, o casamento perfeito vislumbrado no pequeno sono de meu pai sabiamente acordado nas longas noites esperando o caçula que veio embora pra capital e nunca mais voltou.

Lágrimas de mim, rios de gozos e toda minha inspiração. Alegrias em noites ardentes no Baixo Tambaú, quando a cidade era provinciana, sem o medo do assalto a mão armada. Esquece, hoje é dia de festa.

O velho retrato extenuante das imagens antigas, de uma João Pessoa, que foi transformada numa selva de pedra tropical, onde estanca até a veia na memória desses anos que se arrastam sob meus pés no chão do passado, presente e futuro.

Sou filho do itinerário lírico de Jomar Moraes Souto. Da delicadeza azul turquesa da escritora Angela Bezerra e agora a saudade marcante do jornalista Walter Galvão Eu saía de casa pela Avenida Beira Rio (estrada das árvores) e vislumbrava os gestos dos humildes tão gentis, as mães levando os filhos para a escola. Tenho muito amor por João Pessoa.

Falo sozinho, mas não estou só. Nem ando só. Reflito. O que não entendo, decifro. Assim como o copo cheio de ar da canção “Tenho sede” de Dominguinhos. Tenho sede de aprender mais. Eu sou apaixonado por João e algumas Pessoas.

Vendaval. Não tenho armas para disparar e se tivesse, trocaria por acenos, silêncios na dança das acácias, os belos cachos de acácias da Praça João Pessoa, que sutilmente aparecem na canção do Caetano. Entre uma conversa e outra, um pássaro voa no céu na cidade amada. Liberdade. A vontade de continuar no sossego é o que me assalta.

De manhã, de tarde ou à noite, os instantes tão belos e as ruas que desembocam no mar congestionadas de carros e carroças. Normal, a cidade cresceu e não tem mais aquele moreno bonito que vendia pão doce às 15h em ponto na Rua Santos Elias, em frente à casa de Tia Mercês onde eu dormia numa cama de campanha.

Lá fora a garra dos garotos podres a bailar pedindo grana nos sinais, pregados uns nos outros: crucificados. Se eu soubesse cantar… Nem convencional, nem monótono. Escuto a música do mar, sinto o cheiro do mar do Bessa, (onde morava WP), de Tambaú e do Cabo Branco, que ouso dizer que é meu.

Aprendi com os livros a conhecer as pessoas e a desaprender a viver com elas. Puxa vida! Alguém sabe onde me dizer onde fica a Rua do Sol? Ah, no Bairro do Miramar.

Muito obrigado João Pessoa e as pessoas sertanejas que estão aqui somando, ajudando, elevando o potencial da cidade. Aqui me tornei jornalista, casei com a pessoense Francis Córdula. Sou pai de Vítor e agora aos 60 anos estou escrevendo um romance, porque as árvores já estão plantadas no chão.

Antes da “Estrela da Manhã do Bandeira”, eu já amava João Pessoa e não dava bandeira.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB