João Pessoa, 10 de agosto de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Os sinais surgem de vários cantos. Somos viramundos virados, como diria Gil. Não conseguimos mais decifrar todos os códigos que nos surgem. Nem tampouco, sabemos como lidar com tudo que nos é oferecido no banquete da modernidade. Lucas Santos virou da vida para a morte. E eu ouvindo apaixonadamente sua mãe, Walkiria, (foto) cantando seus disfarces, emocionando com seu Verdadeiro Amor. Puro forró-emoção. Só tristeza, depois que o filho se foi. TIK TOK, Haters, ódio. Xingamentos fóbicos, políticos, sexuais, girando as cabeças. Um hater em cada postagem. Milhões de haters à solta. E eu me segurando para não engolir esse travo inexplicável dos que se odeiam.
Há outros sinais. Simone Biles desapontou americanos. Surpreendeu a todos que não tiravam os olhos das olimpíadas. Biles desistiu! Da final de uma modalidade de solo. Dos saltos. Biles renunciou a medalhas, em troca de chamar a atenção para a saúde mental de atletas de ponta. Uma campeã capaz de anunciar aos quatro cantos das competições olímpicas, os seus problemas mentais insuportáveis.
Um gesto, admitamos, de dimensão maior que qualquer medalha de ouro. Simone, aliás, a ganhou, quando outros atletas, como o nadador campeão Adam Peaty e o jogador de críquete Ben Stokes, da Inglaterra, anunciaram interrupções nas atividades esportivas, justamente em nome da saúde mental. Assim como fez a mergulhadora chinesa Shi Tingmao, que se sentiu encorajada para revelar sua luta contra a depressão. Coisa rara.
Que bom, se essas atitudes pudessem furar, para que depois estourássemos por completo, a bolha de preconceitos medievais contra tudo que se refere às reações, problemas e transtornos mentais. Afinal, é justo alguém atingir o máximo em performance física, com seu estado de higidez mental em frangalhos?
O gesto incompreendido, como reação a ataques da internet, do jovem Lucas Santos; e a atitude corajosa de Simone Biles, largando mão do seu “título” GOAT (“Greatest of All Time”, ou a Melhor de Todos os Tempos) como frequentemente era referida, sejam realmente sinais de outros tempos. Não de um outro normal, mas de outros normais em que se possa ampliar o espaço para denunciar situações que rebaixem nosso bem-estar, aviltem nossa capacidade de suportar tensões, ou qualquer agressão que venha do corpo social para nos destruir.
Denunciar ameaças. Assumir dificuldades. Procurar ajuda, em nome do equilíbrio saudável entre um corpo performático, e uma mente que irradie serenidade, resiliência e, quando possível, felicidade, qualquer que seja a idade, o país ou a situação vivida. Espera-se, assim, cantar, seu Verdadeiro Amor, com Walkiria Santos: “Sem você eu não teria, motivo algum para viver feliz”. Mas somente para lembrar do amor ausente, e nunca pela falta de um filho que, atordoado, decidiu partir para sempre.
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HORA H - 22/11/2024