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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Vá ao Bar do Arante!

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publicado em 11/08/2021 ás 07h13

Se você for a Florianópolis, não deixe de visitar o Bar do Arante, na Praia do Pântano do Sul, para tomar uma cachacinha e saborear uma tainha das melhores, regada ao visual da paisagem, simplesmente bela.

O Arante já é um bar antigo, fundado nos anos 60 do século passado pelo casal Osmarina e Arante, para abrigar pescadores, turistas, estudantes, à procura de um de comer, sobretudo peixe frito e frutos do mar. Seu melhor cardápio – e olhe que seus pratos, quitutes e tira-gostos são de dar água na boca – não me pareceu a variedade gastronômica. O tempero está em outra coisa. Pasmem: na decoração. E que decoração!

Bilhetes, recados, cartinhas, frases, pensamentos, dedicatórias, palavras, simplesmente palavras, cobrem paredes e teto numa espécie de Babel idiomática que nos revela os sentimentos, os desejos e os sonhos de toda parte do mundo. Ingleses, americanos, japoneses, italianos, alemães, chilenos, argentinos, espanhóis, africanos, russos, poloneses, brasileiros, enfim, toda raça e toda gente já passaram por lá. Passaram, mas deixaram, senão alguma coisa do corpo, pelo menos um naquinho sequer de sua alma, emoldurada nos traços de uma caligrafia pessoal que jamais se apaga.

Ah! O voluptuoso desejo de comunicação!

De Jeová, cearense, destinado a Maria das Dores, li este bilhetinho: “Querida, estou na quarta dose, a paisagem é linda, mas você sabe: a paisagem mais bela do mundo é você”. Carlos Alberto, pernambucano, não manda recado para ninguém, mas escreveu: “Se Deus me permitisse, moraria aqui para sempre. Teria, decerto, uma morte feliz!”. Gabriela, alagoana, provavelmente com saudade de seu gatinho de estimação, não se conteve e rabiscou: “Freud, meu querido, tudo está perfeito. Não, nem tudo está perfeito. Falta o calor macio de seu pelo de pérola. Você é a pessoa mais importante de minha vida. Nunca esqueça disso. Beijos glaciais!”. Gustavo, acreano, anota, talvez para si mesmo, ou para todos: “Estou sozinho, triste, desesperado. Esta cachaça, esta tainha, esta paisagem, no entanto, me deixam comovido como o diabo. Vendo isto, começo a acreditar que Deus existe, embora nada seja verdadeiro e tudo seja permitido”. Ana Lúcia, sergipana, quem sabe, muito apaixonada, escreveu para Turíbio das Flores: “Tutu, que pena que você não esteja aqui comigo no Bar do Arante. Tudo, aqui, é açoreano: a água, o peixe, a luz, o silêncio, a saudade. Principalmente a saudade. Só não estou no paraíso, porque me faltam as serpes de suas mãos alisando meu corpo. Nenhuma paisagem completa ninguém. Só uma pessoa completa outra. No meu caso, você é essa pessoa”.

Já Paulo César, Vidigal, Açucena e Joana dos Santos, mineiros, assinaram: “Estamos no Bar do Arante, julho de 1982, completamente embriagados. Como não sabemos o caminho de volta, ficaremos aqui mesmo. Adeus, papai; adeus, mamãe; adeus, filhos meus! Quem sabe, um dia, vocês nos encontrarão!”.

E, de minha parte, para não passar por acanhado, deixei, pregado, numa das portas do recinto, este doído parágrafo: “Este bar é perfeito, mas as coisas são incompletas, sim. Nem morrer é remédio, e amar nem Deus sabia. 19 de agosto de 2013. Hbf”.

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